A vontade de ser mãe só apareceu quando a mulher se sentiu mais madura e realizada profissionalmente. Um problema de saúde impediu que ela engravidasse quando era mais jovem.
Ela conheceu um novo amor por volta dos 40, o que fez reacender o desejo de vivenciar a maternidade ao lado do novo companheiro. Há uma série de razões para algumas mulheres optarem pela gravidez tardia, todas válidas, todas muito possíveis.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Rio de Janeiro, em 2015, o percentual de mulheres que se tornaram mães entre os 20 e 24 anos era de 25,1%. Dez anos antes, esse índice era de 30,9%. Em compensação, 30,8% das mulheres entre 30 e 39 anos tiveram bebês. Esse número era de apenas 22,5%, em 2005.
A expectativa de vida aumentou, as possibilidades profissionais se expandiram, assim como os papéis sociais que a mulher desempenha na atualidade. O que parece não acompanhar essa tendência é o relógio biológico. É de conhecimento quase geral que a fertilidade feminina cai a partir dos 35 anos.
Mesmo assim, os anúncios das gestações de famosas como Karina Bacchi (40 anos), Eliana (43 anos) e Ivete Sangalo (45 anos) geram comoção, questionamentos e também bastante esperança em quem está tentando engravidar mais tarde.
Mulheres que foram mamães por volta dos 40 anos compartilham generosamente suas histórias com bastante sinceridade e também emoção. Você pode se identificar com alguma dessas histórias (ou, quem sabe, vivê-la no futuro).
Grávida aos 40 anos
“Meu sonho sempre foi ser mãe”
“Meu sonho sempre foi ser mãe. Quando cheguei aos 37 anos, eu ainda não tinha casado e achei que isso não aconteceria, pois trabalho muito. Cheguei a pensar em adoção, mas conheci meu ex-marido e acabei casando aos 38 anos. Falava para ele com frequência da minha vontade e acabei voltando grávida da lua de mel. Infelizmente, perdi o bebê.
Esperei um ano e meio para tentar de novo, mas optei pela fertilização. Tinha que ser um método certeiro, porque eu já não tinha muito tempo. Um amigo me indicou um médico e começamos o tratamento. Eu produzia bastante óvulos, mas precisei de cinco tentativas para engravidar.
É difícil controlar a ansiedade. Quando você faz o exame de sangue e dá negativo, é uma frustração muito grande. Mas sou uma pessoa muito ligada à espiritualidade, então sempre pensava positivo, pensava que Deus me daria o que eu queria, se aquilo fosse bom para mim. Meu parceiro me apoiava muito e tentava me ajudar, para que eu ficasse calma e tranquila. Na quinta tentativa veio o Enzo.
Hoje vejo que a melhor coisa que aconteceu para mim foi ter engravidado aos 40. Quando ele nasceu, eu já tinha 41. A gestação foi tranquila, apesar de eu me preocupar bastante com a saúde dele. Meu maior problema foi lidar com a ansiedade.
Queria logo ver o meu bebê. Então fazia tudo certinho, fazia tudo que o médico orientava. Tinha uma alimentação balanceada, bebia muito água, dormia bem. Trabalhei até o último momento, minha bolsa estourou no caminho. Fiz uma cesárea e dois dias depois estava em casa.
Voltei a trabalhar, fiz um quartinho para o Enzo dentro da minha loja e ele ficava comigo o tempo todo. Ele mamou até os nove meses. Eu tinha muito leite e ele pegou o peito bem rápido. Até hoje lembro da sensação dele no meu peito pela primeira vez.
Vou dizer… Se eu pudesse, seria mãe de novo, teria mais uns três filhos! Amei ficar grávida, ver a mudança do corpo, para mim foi a melhor experiência! (Anna Paula de Maria)“.
“Tive as mesmas preocupações que teria aos 20”
“Aos 40 anos, engravidei pela primeira vez. Minha filha chama-se Roberta e hoje tem 24 anos. Queria muito ser mãe, sempre quis e depois de sete anos de namoro, resolvemos casar e já ter filhos. Mas o legal foi que tudo foi natural. Eu estava tranquila, planejava ser mãe, acabei engravidando sem precisar fazer nada.
Depois de alguns meses, acabei tendo um sangramento um pouco perigoso, porque tinha riscos de perder de bebê. Fiquei de repouso por 40 dias e tomei algumas injeções de hormônio. Nunca tinha ficado sem trabalhar. Durante esse tempo, me preocupei, mas depois voltei ao ritmo acelerado.
Meu primeiro médico me orientava ficar em casa deitada, só repousando e, no máximo, levantar para ir ao banheiro e tomar banho. Ele queria que eu passasse a gestação toda assim, mas por causa de um problema de saúde tive de trocar de doutor.
Até hoje me consulto com esse especialista. Foi trabalhando e vivendo normalmente que cheguei ao momento do rompimento da bolsa. Estava em casa, era meia-noite. Fui para o hospital às 6h da manhã e tive um parto normal.
Acho que tive as mesmas preocupações que teria se tivesse 20 anos. A idade não influenciou muito. Minhas perguntas eram as mesmas de qualquer mãe de qualquer idade.
Aos 45 engravidei de novo, da mesma maneira, naturalmente. Parei de trabalhar 10 dias antes de a Renata nascer. Novamente tive um parto normal.
Antes de ter minhas filhas, eu sentia que as pessoas tinham um jeito sútil de pressionar por filhos. As pessoas queriam saber do meu futuro. Como se filhos fosse uma necessidade, mas cada um escolhe o que quer. Quando fui chegando aos 40 anos, comecei a pensar na minha vida, mas não só a gravidez, em como queria estar lá na frente.
Sempre privilegiei a carreira. Ela me chamava e, no final, essas coisas foram ficando e a maternidade foi aquela parte do destino que você não escolhe, o destino que te escolhe. Não me lembro de pensar na minha fertilidade, de ficar angustiada. Se você criar mais preocupações, não consegue desfrutar das coisas (Iliana Graber de Aquino)“.
“Achava que nunca era a hora certa”
“Tenho 45 anos. Em fevereiro de 2017 dei à luz minha filha. Meu sonho era ser mãe, adorava criança, mas achava que nunca era a hora certa, estava sempre viajando e trabalhando. Quando vi, o tempo passou. Em maio em 2016, tinha perdido meu pai havia um ano. Estava bem chateada e reencontrei um ex-namorado. Viajei para encontrá-lo e ficamos nove dias juntos. Foi aí que acabei engravidando.
Não estava esperando, nem pensando, nada. Não tomava anticoncepcional e falei para ele. Lembro que ele me disse: ‘A gente não tem tempo a perder’. Também imaginava que não era fácil assim, que com a minha idade não seria rápido.
Não nos prevenimos e 15 dias depois comecei a me sentir incomodada com cheiros de perfume. Achei estranho e cheguei a comentar com a minha mãe. Fiz um exame de sangue, mas nem atrasada estava, então não consegui concluir nada. Fiz um teste de farmácia que deu positivo. Não tive nada, só azia mesmo, nem enjoei.
Meu médico nunca me assustou com isso, minha saúde estava boa. Nunca me alertou quanto a minha idade, falava para eu ficar tranquila, então eu sempre acreditei e tive fé. Um dia, eu estava lendo os sintomas do fim da gravidez e comecei a sentir as mesmas coisas que lia.
Minha bolsa estourou e fui para o hospital querendo um parto normal, não tive pressão alta, estava bem, então achei que daria certo. Mas fiquei muito tempo em trabalho de parto e nada. Um dos plantonistas do hospital me aconselhou a fazer a cesárea e achei melhor.
No fim, esta foi a melhor decisão. Minha filha estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço. Depois, minha primeira dificuldade apareceu: o leite. Não consegui dar muito de mamar e ela se adaptou bem aos suplementos. Hoje é uma menina linda e saudável de sete meses (Claudia Mazzaferro)“.
“Não estou mais afobada para viver”
“Estávamos juntos há alguns anos quando vimos que era hora de tentar. Meu marido tinha o sonho de ser pai e eu já tinha uma filha, então queria ser mãe novamente. Começamos a tentar quando eu tinha 42 anos.
Parei de tomar anticoncepcional e deixamos rolar, mas aos 45 ainda não tinha acontecido, então, decidimos investir na fertilização in vitro. Quando fazemos fertilização, o médico insere sempre mais de um embrião. No meu caso, foram dois embriões e os dois se desenvolveram, então fiquei grávida de gêmeos.
Minha gestação foi muito tranquila. Tive que administrar por alguns meses certos medicamentos por conta da inseminação, mas tudo correu muito bem. Senti uma certa pressão das pessoas, alguns me viam como uma mulher ‘velha’ para estar grávida, outras pessoas se preocupavam com a minha saúde.
Minha única dificuldade foi a falta de ar. Os bebês pressionavam meu diafragma e o inchaço, mas foi só. Meu médico ainda era o mesmo desde a minha primeira gravidez e ele me tranquilizou.
Como eu já tinha feito uma cesárea, nem cogitei o parto normal, até por que o parto natural de gêmeos é mais complicado. Em um dos meus últimos exames, o médico viu que os batimentos cardíacos do meu menino diminuíram um pouco e percebemos que era melhor adiantar o parto.
Minha filha e meu filho nasceram ótimos. Minha cesárea foi melhor do que a primeira. Na primeira vez, passei mal algumas horas depois, quando me levantei, mas dessa vez me senti bem e sequer tive dores após o parto. Amamentei meus filhos também durante 4 meses. Na maternidade fui orientada a dar o peito e o complemento com fórmula para as crianças, então eles já estavam acostumados quando o leite materno secou.
Hoje vejo que é uma tendência as mulheres engravidarem mais maduras, por conta da carreira. Antigamente não era assim. Quando tive minha primeira filha estava na casa dos 20, era nova, queria fazer tudo. Com a experiência me vi mais calma para curtir as etapas das crianças. Não estou mais afobada para viver e passear, diria até que estou mais responsável agora (Natércia Carrano Leuterio)“.
“A idade é só um número”
“Tenho 43 anos. Quando pensei em maternidade, já tinha me dedicado muito à carreira. Passei cinco anos estudando para ser juíza, então não tinha como conciliar a maternidade com o trabalho. Acho que acertei nisso, vejo que muitas mulheres estão optando por seguir esse caminho também.
Quando engravidei pela primeira vez estava com 39 anos. A carreira estava estabilizada, o momento tinha chegado. Para ser sincera, nunca tive o sonho de ser mãe, foi uma coisa que a vida foi me dando. Não gosto de romantizar, mas foi a melhor coisa da minha vida.
Parei de usar a pílula e fomos ao médico, para ver como funcionaria. Fomos orientados a tentar por um ano e fizemos isso por alguns meses. Não funcionou. Ouvi algumas amigas falarem de um remédio que induzia a ovulação. Não recomendo que ninguém tome, não fui orientada a fazer isso e tomei uma bronca do meu médico.
Mas depois de um mês, engravidei. Comecei a sentir muito sono e os seios doloridos. Minha menstruação não é regulada, então não achei que estava grávida. Sentia muitas dores no ventre, comprei o teste e deu positivo.
Minha gestação foi muito boa, fiz tudo que eu queria fazer, aproveitei e me senti bonita, ganhei pouco peso e foi muito saudável. Escutei alguns comentários maldosos, mas nunca me importei. Enquanto tinha gente falando que eu era ‘velha’, outras pessoas me parabenizaram por ter ‘feito o certo’, vivido a carreira e depois a maternidade. Sempre tive a consciência de que se eu fosse ser mãe, seria mãe tarde.
Na hora do parto, quis cesárea. Sou medrosa e isso me angustiava. A recuperação não foi uma maravilha, o período pós-parto não é agradável. A amamentação foi a coisa mais difícil que fiz na vida.
Tive pouco leite, minha bebê não aprendeu a pegar, foram dias complicados… fiquei bem triste e chorei bastante. Ela mamava e não ganhava peso. Mamou um mês e depois meu peito secou naturalmente. Eu me cobrava, porque queria amamentar, mas não conseguia e aquilo foi acabando comigo.
Agora estou grávida de novo e fui pega totalmente desprevenida! Pensei que meus óvulos estavam velhos. Relaxei. Os mesmos sintomas apareceram. Fiz o teste só para desencargo de consciência, mas quando peguei, vi que estava positivo.
Tinha acabado de fazer uma abdominoplastia, fiquei preocupada. Estou com três meses, minha barriga está pequenininha, não vai crescer muito e é um menino. Está indo superbem.
Sinto que a diferença em relação a idade faz com que a gente se torne mais exigente. Mais novos, fazemos as coisas mais ‘loucamente’, mas a maturidade traz perfeccionismo. Sou uma mãe rígida, fui criada dessa forma, mas tenho uma ligação muito forte de amiga com minha filha. Sinto que agora minha existência toda fez sentido. A idade, creio eu, é só um número. E hoje meu número é 2 (Maria Fernanda Maciel Abdala)“.