Às vezes você tem a sensação de que a língua portuguesa só existe para “trollar” quem tenta usá-la?
De que não importa o quanto você se dedique, procure ficar por dentro de todas as exceções das regras gramaticais e passe seu texto em trinta corretores ortográficos diferentes, ela sempre vai conseguir pegá-lo em uma armadilha?
Então temos três motivos para ajudá-lo a ficar mais tranquilo.
Primeiro: pode relaxar, porque a não ser que seja Guimarães Rosa (o que, no caso, implicaria que você voltou dos mortos só para ler este post — que honra!), você não é o único.
Segundo: nós temos a solução para o seu problema. E, como esse problema não é nada fácil de resolver, criamos uma explicação simples que irá te ajudar a se preparar na prevenção de erros de português! Confira:
1-Use o corretor ortográfico: Não deixe de utilizar o bom e velho corretor ortográfico. Há muitos erros que passam despercebidos pelos nossos olhos e que um programa de qualidade pode identificar.
2-Leia seu texto em voz alta: Seu ouvido pode processar informações de forma diferenciada. A leitura em voz alta ajuda a perceber falhas que seu pensamento, muitas vezes, não poderia reconhecer.
3-Tenha um dicionário por perto: O Bom e velho dicionário não deve ser dispensado. Surgiu alguma dúvida que o corretor não solucionou? Recorra esse companheiro inseparável.
4- Use post-its: Separe os erros que você costuma ter maior dificuldade escreva-os em post-its e cole por perto de seu computador. Além de ajudar bastante, o home office fica mais bonito!
5-Escreva em um ambiente silencioso: Tenha um ambiente tranquilo para redigir os seus textos. É preciso foco total para evitar erros bobos. Seja no escritório ou em casa, peça silêncio para realizar seu trabalho com qualidade.
6-Dedique-se a gramática: Sobrou um tempinho à noite? Estude um pouco. Se cada dia uma regra for aprendida, em pouco tempo os erros desaparecerão dos seus textos.
7-Peça ajuda!: Em caso de dúvidas que o dicionário ou corretor ortográfico não forem satisfatórios, peça a ajuda de alguém que entende do assunto. Aquele amigo que cursa letras ou a tia que é professora são fontes excelentes de conhecimento. Então não deixe de perguntar!
Terceiro: já disse que temos a solução para todos os seus problemas? Ok, talvez não para todos, mas pelo menos para 102 deles. Quer ver? Prenda a respiração e conte com a gente:
Gêmeos do mal
1. “Mal” e “mau”
Por que “gêmeos do mal”, com “L”? É que “mau” com “U” é um adjetivo, enquanto “mal” pode ser advérbio ou substantivo. Olha só:
A luta entre o bem e o mal nunca acaba.
Comemos muito mal durante a viagem.
Nas histórias, as madrastas sempre são más, isto é, têm o coração mau.
Quem é mal-humorado está sempre de mau humor!
2. “Bem” e “bom”
Quer uma dica? “Mal” é o contrário de “bem” e “mau” o de “bom”, ou seja, “bem” pode ser usado nas mesmas situações em que se usa “mal”, e “bom” naquelas em que você colocaria “mau”. Assim:
Ficamos de bom humor (ou bem-humorados) depois de comer tão bem no restaurante!
Fritura é muito bom, mas infelizmente não faz bem.
3. “Independente de” e “independentemente de”
Mais uma da série advérbios versus adjetivos, a diferença entre esses dois é que “independente” pode ser uma qualidade ou um estado (isto é, um adjetivo), enquanto “independentemente” é um advérbio de modo, que quer dizer a mesma coisa que “de forma independente”. Confira os exemplos e entenda melhor:
Com que idade um jovem se torna independente dos pais?
Independentemente da nossa idade, todos podemos precisar do apoio da família em algum momento.
4. “A princípio” e “em princípio”
A palavra “princípio” pode se referir tanto a ideologias e valores como ao começo de alguma coisa, certo? Pois a chave para a diferença entre essas duas expressões está justamente aí: com “a” ela tem sentido de início, e com “em” de valor ou essência. Espie:
A princípio, pensava-se que a Terra era o centro do universo.
A poesia é, em princípio, a arte de escrever em versos.
5. “Há” e “a”
Um é um verbo, o outro uma preposição, mas por causa da pronúncia idêntica, é fácil se embananar na hora de escrevê-los, não é? A dificuldade aumenta quando “há” (que, para quem não se lembra, é do verbo “haver”) é usado para indicar o tempo passado, se confundindo com a preposição “a”, que só marca uma distância (temporal ou espacial). Fica assim:
Há muito tempo, os dinossauros foram extintos.
O supermercado mais próximo fica a 10 minutos daqui.
No ano passado, comprei meus presentes com antecedência: a 2 meses do Natal.
6. “Haver” e “a ver”
Outro irmão do mal de “haver” é a expressão “a ver”. Apesar de soarem iguaizinhas, as duas palavras, na realidade, não têm nada em comum: a primeira é um verbo, mas a segunda indica uma afinidade (ou não) entre duas coisas. Confira:
Quando chove muito, pode haver enchentes na cidade.
É possível que dois gêmeos sejam bem parecidos ou, pelo contrário, não tenham nada a ver um com o outro.
7. “Haja” e “aja”
Sim, há ainda mais uma forma de fazer confusão com o verbo “haver” (haja paciência, não é?!), mas não precisa desistir de usá-lo para sempre, não! Na verdade, é bem fácil distingui-lo de “aja”, do verbo “agir”: é só ver se dá para trocar por “existir”. Veja só:
Mesmo que haja (ou exista) algum risco, vale a pena investir nesse setor.
Para que a empresa se recupere da crise, é preciso que a administração aja imediatamente.
8. “Vem” e “veem”
Os dois são verbos, mas se o primeiro (com um “e” só) é de “vir”, o segundo (com dois) é conjugação de “ver”. Entenda:
Você prometeu que vem me visitar amanhã.
Eles não veem a hora de se encontrar de novo.
9. “A gente” e “agente”
Junto ou separado? A resposta é simples: se for o mesmo que “nós”, é separado; se for a profissão (tipo 007), é junto. Fique de olho:
James Bond é o agente secreto mais famoso do mundo.
Por que você não vem com a gente ao cinema?
10. “Acerca de” e “cerca de”
“Acerca de” é o mesmo que “sobre” ou “a respeito de”. Já “cerca de” vem da expressão em latim circa, podendo significar tanto “perto de”, quanto o velho e bom “mais ou menos”. Veja só:
Preciso falar com você acerca de um problema pessoal.
Estima-se que a população mundial tenha chegado, hoje, a cerca de 7,4 bilhões de pessoas.
11. “De trás”, “atrás” e “detrás”
Enquanto “detrás” e “atrás” podem ser usados como sinônimos, “de trás”, separado, aparece quando é necessário empregar a preposição “de”. Confuso? É só pensar assim: se a pergunta for só “onde”, responda com “atrás” ou “detrás”. Agora, se for “de onde”, o certo vai ser “de trás”. Fica desse jeito:
Onde está o cofre secreto? Atrás do quadro.
Onde foi parar meu casaco? Está pendurado detrás da porta.
De onde saiu esse rato? De trás do armário da cozinha.
12. “Aparte” e “à parte”
“Aparte” pode ser o imperativo do verbo “apartar” (que quer dizer separar ou desviar) ou um substantivo masculino (que significa um comentário isolado, como se fosse um parêntese em um discurso). Já “à parte” é aquilo que já está ou vai ser separado. Veja se entende melhor com os exemplos:
Ele não consegue manter sua linha de raciocínio e faz apartes desnecessários o tempo todo, de modo que ninguém entende o que diz.
Ontem fui chamado para uma conversa à parte com minha chefe.
Minhas compras pessoais precisam ser feitas à parte em relação às da empresa.
13. “Decerto” e “de certo”
A dica aqui é tentar substituir a expressão pela palavra “certamente”. Se funcionar, use “decerto” junto. Se não, é “de certo” separado. Desse jeito:
De certo modo, seu conselho me ajudou mais do que eu esperava.
Depois de estudar tanto, você decerto conseguirá uma boa nota na prova!
14. “Propício” e “propenso”
Eles são parecidos, mas o significado não é o mesmo. “Propício” indica que uma situação pode favorecer alguma outra coisa, mas não necessariamente que há uma tendência, como indica “propenso”. Basicamente, é o seguinte:
Um ambiente silencioso é mais propício (ou apropriado) para os estudos.
Mas se você não estiver propenso (ou tendendo) a estudar, o silêncio não vai fazer diferença.
15. “Senão” e “se não”
“Se não” separado aparece em frases em que você poderia inserir alguma coisa entre o “se” e o “não”. Já “senão” junto pode aparecer como substantivo ou no sentido de “mas sim”, “do contrário” e “exceto”, sem que você possa separar os dois elementos. Teste nessas frases e entenda:
Aceito seus termos, com um senão: preciso de um prazo maior.
Se não conseguir chegar a tempo ao cinema, eu compro seu ingresso e espero-o na entrada das salas.
Tente chegar pontualmente, senão perderemos o início do filme!
16. “A fim” e “afim”
“Afim” junto vem de afinidade, enquanto “a fim” é a preposição “a” ligada ao “fim” no sentido de finalidade. Para saber qual dos dois usar, então, é só parar para pensar qual dessas duas ideias você está tentando passar. Veja:
As duas empresas se uniram para atingir interesses afins (ou semelhantes).
Você está a fim de sair hoje à noite?
Precisamos passar no banco a fim de fazer um depósito.
17. “Perca” e “perda”
Mais um parzinho fácil de distinguir: “perda” é substantivo, enquanto “perca” é verbo. Ou seja: se puder colocar artigo antes (“a perda” ou “uma perda”) é com “d”. Sacou? Então confira:
Não perca tempo: compre já o nosso produto!
Acabe com a perda de tempo usando nossa técnica para ser mais produtivo!
18. “Descriminar” e “discriminar”
“Discriminação”, com “i”, é separar as coisas, e por vezes tratar as pessoas ou questões de forma desigual por causa de algum preconceito. Já “descriminar” é tirar a culpa de um crime (daí o prefixo “des”, de negação, como em “descolorir”, por exemplo). Acompanhe:
Você já sofreu algum tipo de discriminação racial no trabalho?
O júri descriminou o réu após um julgamento que durou meses.
19. “Absolver” e “absorver”
Por falar em descriminar, um de seus sinônimos que também gera alguma confusão é “absolver”, que quer dizer tirar a culpa, perdoar, etc. Diferentemente de absorver, que é fazer desaparecer um líquido (pensou em fraldas?) ou assimilar algo. É simples:
Os padres ouvem as confissões dos fiéis para absolver seus pecados.
Em uma aula expositiva, nem sempre é fácil absorver todo o conteúdo dado.
Alguns tecidos ajudam a absorver melhor o suor na prática de atividades físicas.
20. “No lugar de”, “ao invés de” e “em vez de”
Pense em trigêmeos, mas com dois dos irmãos sendo iguaizinhos e um deles bem diferente. A ovelha negra é “ao invés de”, que só serve para contrastar ideias opostas (tipo alto e baixo, frio e quente, etc.). Os outros dois contrastam coisas diferentes, mas que não se excluem mutuamente (como manga e melancia, azul ou branco, etc.). Repare nos exemplos:
Decidimos fazer uma mousse para a sobremesa no lugar do bolo. (mousse e bolo não são necessariamente opostos)
Não vamos viajar mais para o Japão. Em vez disso, vamos para a Nova Zelândia. (idem)
Ao invés de sair, resolvemos ficar em casa. (ficar em casa e sair podem ser consideradas coisas opostas, certo?)
21. “Na medida em que” e “à medida que”
Se “na medida em que” tem sentido de causa e pode ser trocada por “porque” ou “visto que”, sua expressão gêmea, “à medida que”, indica uma progressãoproporcional. Veja como:
O calor vai aumentando à medida que o verão se aproxima.
As casas dos países de clima temperado precisam ser construídas com mais cuidado na medida em que (ou porque) sofrem mais com as oscilações de temperatura a cada estação.
22. “De encontro a” e “ao encontro de”
Parece mesmo bobagem, mas trocar o “a” e o “de” de lugar em torno da palavra “encontro” pode, sim, fazer toda a diferença! Isso porque “de encontro a” é algonegativo, que indica uma oposição. Já “ao encontro de” é positivo, é mostra a afinidade entre duas coisas. Fica assim:
A ascensão da sustentabilidade no cenário mundial vai de encontro aos interesses das empresas que preferem explorar o meio ambiente do que cuidar dele.
As feiras de alimentos orgânicos vão ao encontro dos produtores locais, que conseguem vender seus produtos a preços melhores.
23. “Viajem” e “viagem”
Parece pegadinha, mas não é: com “g”, “viagem” é substantivo, enquanto com “j” é verbo. O truque, então, é checar se dá para usar artigo (“a” ou “uma”): se der, acerte com o “g”. Confira:
Vou fazer uma viagem para o exterior nessas férias.
Espero que vocês viajem muito durante o intercâmbio!
24. “Seção” e “sessão”
Com “ç”, “seção” tem sempre a ver com uma divisão ou subdivisão. Já com “ss”, se refere a um evento que dura um tempo determinado (como no cinema, uma reunião, assembleia, consulta médica, etc.). Olha só:
Foi convocada uma sessão extraordinária no congresso para esta semana.
A lei que você procura está na última seção do regulamento.
25. “Comprimento” e “cumprimento”
O “cumprimento”, com “u”, é a saudação, o aperto de mãos, etc., além do substantivo do verbo “cumprir” (como o cumprimento ou descumprimento da promessa). Já o “comprimento”, com “o”, é a medida. Fica assim:
Essa sala tem 3 metros de comprimento.
O não cumprimento da lei pode acarretar multas.
Dê meus cumprimentos ao seu irmão pela formatura.
26. “Descrição” e “discrição”
“Descrição” vem de “descrever”, enquanto “discrição” é de “discreto”. Não é difícil diferenciar esses dois, veja só:
Em uma entrevista de emprego, o ideal é se vestir com mais discrição.
Nas vendas pela internet, é sempre bom contar com uma descrição detalhada do produto.
27. “Hora” e “ora”
Todo mundo sabe o que “hora” quer dizer, certo? A dúvida, então, se concentra geralmente mais no caso de “ora” sem “h”, que além de fazer parte de algumas expressões fixas, pode significar “agora” e “além disso”. Confira:
A que horas você pretende chegar? Tenho um compromisso depois.
Isso é hora de estar de pé em um dia de semana? Está tarde!
Você disse que está enfrentando problemas pessoais? Ora, não me venha com essa, eu conheço bem a sua situação.
O clima está mesmo louco: ora faz um calor insuportável, ora um frio de gelar até os ossos.
Ora, ora, você por aqui?
Por ora, acredito que essa seja a melhor solução.
28. “Tachar” e “taxar”
“Taxar” está relacionado a taxas, tarifas, pagamentos, etc. Por outro lado, “tachar” é atribuir qualidades negativas a alguém ou, ainda, censurar algo, colocando uma tacha (como aqui). Veja:
É normal taxar produtos importados para estimular o consumo interno.
Depois de cometer um erro fatal no primeiro dia de trabalho, João foi tachadode incompetente.
29. “Meio” e “meia”
“Meia”, com “a”, só pode ser duas coisas: a metade ou a meia que calçamos antes dos sapatos (além do número 6, numa redução de “meia dúzia”). Já “meio” pode ser, além de metade, um advérbio, significando algo como mais ou menos. Assim, podemos dizer:
Beba água por toda a manhã, de meia em meia hora, até meio-dia e meia.
Deixe a janela meio aberta para que o ar circule.
30. “Eminente” e “iminente”
“Eminente” é algo excelente, importante, superior. Já “iminente” é algo imediato, que está por acontecer em breve. Entenda:
Guimarães Rosa foi um autor e homem eminente.
Quem mora em regiões onde acontecem tsunamis fica em perigo iminenteapós um terremoto.
31. “Embaixo” e “em cima”
O erro aqui não é o significado, claro, mas a escrita. Para ajudar a se lembrar disso, vale pensar na letra “V”, que tem duas pontas em cima e apenas uma embaixo. Assim, você não se esquece de qual dessas duas expressões tem duas palavras e qual tem apenas uma.
32. “Em cima” e “acima”
Decorou que “em cima” se escreve separado? Ótimo, mas não confunda com “acima” (e “abaixo”!), que é uma palavra só, ok?
33. “Saber” e “conhecer”
Talvez por causa da relação desses dois termos com o inglês know, tem acontecido por aí de se usá-las de maneira intercambiável, principalmente na web. No entanto, “saber” e “conhecer”, pelo menos em português, não são exatamente sinônimos, não! Afinal, nem sempre é preciso conhecer alguma coisa (no sentido de compreendê-la mais a fundo) para saber sobre ela (no sentido de estar ciente). Veja alguns exemplos em que não dá para trocar um pelo outro:
Não conheço os detalhes por trás dessa lei, mas sei que se desobedecê-la serei punido.
Para conhecer as causas de um problema, é preciso, primeiro, saber que ele existe.
Aproveite a oportunidade para conhecer nossa loja e saber mais sobre nossos serviços!
34. “Eficaz”, “efetivo” e “eficiente”
De longe essas três palavrinhas parecem mesmo muito semelhantes, e até intercambiáveis, não acha? Mas basta uma olhada mais cuidadosa para ver que, na verdade, elas não são assim tão parecidas. Enquanto alguma coisa eficaz deve simplesmente cumprir com o esperado, algo eficiente precisa fazê-lo de forma a gastar a menor quantidade de energia e recursos possível. Já efetivo tem relação apenas com efetivar, isto é, concretizar algo. Sendo assim, podemos afirmar o seguinte:
Fixar um quadro à parede com fita adesiva no lugar de pregos pode ser eficiente, já que é muito mais simples do que furar a parede. Além disso, é efetivo na medida em que realiza o desejo de fixar o quadro. Contudo, essa solução provavelmente não é a mais eficaz, pois não cumprirá com o objetivo de manter o quadro fixado ali por muito tempo, não é?
Saiba mais e veja outro exemplo muito interessante aqui.
35. “Qualquer”, “algum” e “nenhum”
Esse é outro trio de palavras que parecem intercambiáveis de longe, mas têm suas diferenças de perto. O principal erro, aqui, é trocar “nenhum” por “qualquer” em frases negativas, já que o segundo termo não tem esse sentido. A confusão parece vir de uma tradução ao pé da letra do inglês any. Quanto ao “algum”, ele pode ser usado no sentido negativo quando vem logo depois de um substantivo. Fica assim:
Escreva: Não há nenhum problema.
Escreva: Não há problema algum.
Escreva: Há um problema qualquer.
Não escreva: *Não há qualquer problema. (O asterisco indica que essa frase é agramatical!)
36. “Simples” e “fácil”
Achou que eram sinônimos? Pois bem, em alguns casos, pode ser que algo seja simples e fácil, de modo que essas palavras possam ser substituídas uma pela outra sem problemas. No entanto, seu significado não é bem o mesmo. Para entender melhor, vale pensar em “simples” no sentido de humilde, sem muita ornamentação, singelo. Por outro lado, fácil é aquilo que, mesmo se envolver diversos passos, não demanda muita habilidade. Veja como isso é possível:
Passar um bife é simples: basta temperá-lo e jogá-lo na frigideira bem quente.
Entretanto, conseguir deixar a carne no ponto certo não é nada fácil: alguns minutos a mais podem deixá-la dura e ressecada, e alguns a menos, crua.
37. “Este” e “esse”
Já ficou em dúvida sobre dizer “este ano” ou “esse ano”? Essa realmente é uma questão um pouquinho complicada, mas dá para resumi-la dizendo o seguinte: “este” se refere ao que está perto de quem está falando, ao tempo presente e ao que queremos dizer a seguir. Já “esse” faz justamente o contrário: se refere ao que está longe de quem fala, ao tempo futuro ou passado, e ao que já dissemos antes. Confira três exemplos em que esse contraste fica evidente:
Daqui a alguns meses, neste verão, provavelmente não vamos ter férias tão boas quanto estamos tendo agora, nesse inverno, já que precisaremos nos preocupar com problemas de final de ano.
Este instrumento que estou tentando usar não serve, por favor, me passe esseque está ao seu lado.
Depois dessas palavras que acabei de pronunciar, gostaria ainda de acrescentar esta citação: “…”
Entendeu agora? Então vale lembrar que a mesma regrinha se aplica ao par “isto” e “isso”.
38. “Por que” e “porque”
A maioria das pessoas conhece a regrinha que diz que “por que” separado é para a pergunta, e “porque” junto é para a resposta, certo? Mas nem sempre ela funciona, já que às vezes a gente acaba precisando usar o “por que” separado em frases com ponto final também, sabia? Isso acontece quando ele pode ser substituído por “por que razão” (ou algo com o mesmo sentido), mas não por “pois”. Confira:
Eu não sei por que meu chefe faltou ao trabalho hoje, imagino que esteja doente.
Precisarei sair mais cedo porque tenho uma consulta médica.
Por que você não avisou que precisaria de ajuda?
39. “Por quê” e “porquê”
Passemos ao próximo nível dos porquês: quando tem acento e quando não tem? Separado, “por que” aparece com acento quando está no final da frase. Já “porquê”, junto e com acento, é um substantivo, podendo ser usado com artigo (“o porquê”). Quer ver?
Você chegou atrasado hoje e eu quero saber por quê.
Meu computador não está funcionando por quê?
Gostaria de saber o porquê dessa algazarra.
Concordância e regência
40. “Havia” e “haviam”
Sim, lá vem o tal “haver” de novo, mas prometemos que é sua última aparição neste post! O erro, aqui, é colocar o verbo no plural quando está sendo usado no sentido de existir. É que, nesse caso, ele faz uma oração sem sujeito, não devendo, portanto, concordar com a coisa que existe ou deixa de existir. Quando usado como auxiliar, no entanto (isto é, quando aparece junto com outro verbo e pode ser substituído pelo auxiliar “ter”), o plural está liberado. Veja só:
Há três flores no jardim.
Havia nove alunos na sala.
Eles haviam mudado de casa no ano anterior.
Nós havíamos colocado seu nome na lista.
41. “Faz” e “falta”
Lembra-se de quando falamos da diferença entre “há” e “a” e vimos que o “há” é usado para marcar uma distância em relação ao passado? Pois é exatamente essa função que também exerce o “faz”, e como no caso do “há”, ele também vai ficar nosingular nesse tipo de sentença, mesmo que o tempo que venha depois (como 7 duas ou 2 horas) esteja no plural. Por outro lado, quando usamos “faltar” para marcar uma distância em relação ao futuro, o tempo é sujeito da oração, por isso o verbo vai poder ir para o plural. Complicado? Não se preocupe, é só conferir os exemplos e você vai entender:
Faz nove meses que mudei de cidade.
Faltam nove meses para que eu me mude novamente.
42. “Tem” e “têm”
Esse erro é bem simples, por isso não é difícil remediá-lo: é só saber que o verbo “ter”, quando conjugado na terceira pessoa do plural (“eles” e “elas”), leva acento circunflexo. Fica assim então:
Ele tem muito dinheiro.
Eles têm muito dinheiro.
A mesma regrinha também vale para o verbo “vir”: “ele vem” e “eles vêm”. Só não confunda com “veem” como falamos mais acima, ok?
43. “Mantém” e “mantêm”
O caso de “manter” é bem parecido com o de “ter” e “vir”, só que aqui, na terceira pessoa do singular (“ele” e “ela”), o verbo já leva um acento agudo, que vai então apenas se transformar em circunflexo no plural:
Ele mantém suas coisas em ordem.
Eles mantêm suas coisas em ordem.
O mesmo vale para “contém” e “contêm”!
44. “Lembrar-se de” e “lembrar”
Trata-se aqui de um erro de regência verbal, isto é, de saber quando um verbo precisa de uma preposição ou não. No caso, é só saber que, quando o verbo é pronominal (“lembrar-se” no lugar de só “lembrar”), precisa vir acompanhado da preposição “de”. Veja como:
Por favor, me lembre de agendar uma consulta médica mais tarde.
Você está se lembrando de que vamos nos encontrar hoje?
Eu lembrei que você não gosta de chocolate.
Essa regra também é multiuso: se aplica da mesmíssima forma a “esquecer” e “esquecer-se de”, viu?
45. “Assistir”
O verbo “assistir” pode aparecer com diferentes sentidos (como presenciar algo, ajudar alguém, apoiar uma causa, etc.), mas o problema só acontece quando ele se confunde com o verbo “ver”, referindo-se a coisas como espetáculos, televisão, filmes, e por aí vai. Isso porque, no uso consagrado da língua, o correto é que o objeto seja precedido da preposição “a”, mas na medida em que pode ser trocado por “ver”, ele acaba fugindo dessa regrinha na linguagem oral, e já começa até a ter esse uso sem a preposição adotado na literatura. Mesmo assim, para não correr nenhum risco, a gente recomenda que você escreva assim:
Vou assistir a um filme hoje à noite.
Vou ver um filme hoje à noite.
46. “Implicar”
Outro verbo que pode confundir até os mais experientes quando o assunto é a regência é “implicar”. Afinal, ele pode vir acompanhado de nada menos que três preposições diferentes, dependendo do seu sentido na frase. Vamos ver:
Os alunos implicaram com a professora nova. (No sentido de não gostar.)
O novo funcionário já se implicou em fofocas e confusões. (Envolveu-se.)
Grandes poderes implicam grandes responsabilidades. (No sentido de ter por consequência ou requisito.)
47. “Acarretar”
Um exemplo de verbo transitivo direto e indireto (que pode vir acompanhado de um objeto com e outro sem preposição), “acarretar” costuma aparecer incorretamente associado à preposição “em”. No entanto, na verdade quem o rege é a preposição “a”, e mesmo assim é opcional adicionar esse segundo objeto indireto. Veja por quê:
O acidente acarretou perdas [ao produtor].
Não há preposição entre “acarretou” e “perdas” (primeiro objeto), mas ainda que haja “a” antes de “o produtor”, essa parte da frase, destacada entre colchetes, é opcional, concorda?
48. “Onde”, “aonde” e “de onde”
A preposição diz tudo: se “onde” é o lugar onde alguma coisa está, “aonde” implica um movimento a algum lugar (como quando usamos “ir” ou “chegar”), e “de onde” demanda a origem de algo. Confira:
Você viu onde está minha carteira?
Não estou entendendo aonde eles pensam que vão.
Não sei de onde veio o barulho.
49. “Em que” e “onde”
Ainda da série do “onde”, é bom aprender a diferenciá-lo de “em que”. Para quem não sabe, “onde” só serve para representar lugares físicos, enquanto “em que” pode ser usado para falar de locais mais abstratos. Isso acontece em situações como as seguintes:
Ontem vi um filme em que o universo é dominado por forças do mal. (O filme não é um lugar físico.)
No filme, o lugar onde as forças do mal se concentram é uma nave do tamanho e formato de um planeta. (Ainda que não exista de verdade, a nave seria um lugar físico.)
50. “Que” sem preposição
Quando o assunto é regência, mais um errinho daqueles que a gente comete inocentemente, quase sem se dar conta, é se esquecer das preposições na hora de usar o “que”. Quer ver quando isso acontece? Confira se você se lembraria de colocar as preposições marcadas na frase a seguir ou se escreveria apenas “que” no lugar dos termos em negrito:
Sua dúvida tem a ver com o assunto de que a gente falou na aula passada.
Os livros de que eu mais gosto estão na parte de cima da estante.
Aquele homem com quem eu estava conversando ontem é o professor.
O jeito com que você disse aquilo me ofendeu.
A história em que os protagonistas são bruxos é a melhor.
E aí, você teria acertado?
51. “Cujo”
Outro pronome que costuma ser esquecido em prol do tão eclético “que” é o “cujo”, equivalente a “de que”, “de quem” ou “do qual”. Você sabe quando e como deveria usá-lo nas suas frases? Então confira aqui:
O rapaz cuja camisa é vermelha.
A sala cujas paredes estão manchadas.
O filme cujo final não é feliz.
As calças cujos bolsos estão furados precisam ser consertadas.
52. “Lhe” e “o”
Tanto “lhe” quanto “o” são pronomes pessoais oblíquos. Porém, enquanto o primeiro serve para substituir objetos indiretos, isto é, que precisam de preposição, o segundo só é usado para os objetos diretos, ou seja, sem preposição. Compare, a seguir, três frases com o verbo “enviar” (que pode ter objeto direto e indireto), e entenda a diferença:
Enviei o resultado a seu assistente. (“o resultado” não tem preposição, por isso é objeto direto; “ao seu assistente” tem preposição “a”, então é objeto indireto)
Enviei-o a seu assistente. (o objeto direto é substituído por “-o”)
Enviei-lhe o resultado. (o objeto indireto é substituído por “-lhe”)
53. “Você” e “te”
Na linguagem oral, apesar de a gente empregar, na maior parte do Brasil, o “você” para se referir à 2ª pessoa, não é raro misturarmos seu uso com o “te”, dizendo “te encontro mais tarde” a alguém que não tratamos por “tu”, por exemplo, não é verdade? Na escrita, contudo, é bom se lembrar de que o “te” não é o pronome que corresponde ao “você” gramaticalmente, já que “você” é um pronome de tratamento (assim como “senhor” ou “Vossa Excelência”) e, por isso, concorda com a 3ª pessoa no lugar da 2ª. Assim, no lugar de “te” ou “teu”, usamos:
Você tem alguma dúvida? Este livro pode ajudá-lo!
Ei, você, esta não é sua carteira?
Você quer que eu o espere?
54. Ênclise de “o”
No primeiro exemplo ali em cima, você deve ter reparado que “-o” apareceu em uma forma diferente: “-lo”. Pois acontece que quando “-o” vem ligado depois do verbo (ou seja, em ênclise), ele precisa mudar de forma em dois casos diferentes: depois de verbos que terminariam em “r”, “s” ou “z”, quando se transforma em “-lo”; e depois de verbos que terminam em sons nasais (com “m” ou til), quando vira “-no”. Confira os exemplos:
Você terá que trazê-los amanhã. (trazer)
Encontramo-la embaixo da mesa. (encontramos)
Fi-lo sem segundas interções. (fiz)
Descobriram-na por acidente. (descobriram)
Põe-no sobre a cômoda. (põe)
55. Mesóclise de “-lo”
Última dica sobre “-o” para você ficar totalmente craque no uso desse pronome oblíquo (e suas declinações, claro!): sabia que quando ele aparece com verbos nofuturo do presente (tipo “farei”, “comerei”, etc.) ou no futuro do pretérito (tipo “adoraria”, “faríamos”, etc.) precisa ser colocado no meio do verbo e ainda aparece sempre como “-lo” (e declinações)? Então veja só:
Venderei esses produtos amanhã. Vendê-los-ei amanhã.
Queria sua resposta o quanto antes. Querê-la-ia o quanto antes.
Conseguiremos esse dado em breve. Consegui-lo-emos em breve.
Você aprenderá a língua rapidamente. Você aprendê-la-á rapidamente.
56. “Dele” e “de ele”
Ninguém tem dúvida na hora de juntar “de” e “ele” em “dele” ou “em” e “ele” em “nele”, certo? Mas nem sempre se deve fazer essa contração! Quando o pronome reto da 3ª pessoa (“ele” e suas declinações) for o sujeito de um verbo no infinitivo, a contração não vai acontecer. É o caso de:
O fato de ele ser o chefe não lhe dá o direito de maltratar os funcionários.
Antes de ela sair, todos estavam em silêncio.
O problema está em eles desobedecerem às ordens.
57. “Dele” ou “seu”
Como aqui no Brasil usamos o “você” com muita frequência, em algumas situações, podem ocorrer ambiguidades em que “dele” e “dela” ajudam a esclarecer a quem determinado elemento se refere. Mesmo assim, quando não há risco de mal-entendido, a regra é usar “seu”. Veja só:
Ana tem três cadernos em sua mochila.
Para lidar com seus problemas, a empresa recorreu a uma solução simples.
O homem recolheu seus pertences e foi para casa.
A não ser que existisse algum motivo que levasse o leitor dessas frases a suspeitar que elas fazem referência a sua própria mochila, seus próprios problemas ou seus próprios pertences (e não aos do sujeito) não há razão para trocar “seu” por “dele” ou “dela”, certo?
58. “Mim”, “me” e “eu”
Parecido com o problema de trocar “lhe” por “o” (e vice-versa), para solucionar a confusão entre “mim”, “me” e “eu”, é preciso parar para descobrir qual é a função desse elemento na oração. Se for sujeito, opte sempre por “eu”; se não houver preposição, use “me”; se houver preposição, “mim” será a resposta certa. Confira:
Preciso que você me envie os dados para eu fazer a análise. (apesar do “para”, “eu” é sujeito de “fazer”)
Preciso que você envie os dados para mim. (“mim” é objeto indireto de “enviar”, com preposição “para”)
Preciso que você me envie os dados. (“me” é objeto indireto de “enviar”, mas não há preposição)
59. “A maioria”
A expressão está no singular e até tem artigo definido, mas se o que vier depois estiver no plural (como geralmente está), com o que o verbo deve concordar? Nesses casos, a regra é flexível: você pode escolher! Mesmo assim, para evitar mal-entendidos, nosso conselho é preferir manter o singular, optando pela chamadaconcordância gramatical (por oposição à atrativa, que concorda com o elemento mais próximo). Suas frases então vão ficar assim:
A maioria das pessoas gosta de chocolate.
O governo procurou atender aos pedidos que as maiorias fizeram.
O mesmo vale para outras expressões partitivas (como “a maior parte”, “a minoria”, “metade de”, “o resto de”, etc.):
A maior parte dos funcionários almoça na empresa.
O restante dos trabalhadores ficará por aqui.
60. Porcentagens
Outra dúvida parecida é esta aqui: na hora de concordar um verbo com um sujeito em que há uma porcentagem, em que você deve se basear, no número ou no substantivo? A resposta é que o substantivo sempre vai mandar mais que o número, a não ser que haja um artigo antes da porcentagem ou que o número seja de apenas 1%. Fica assim:
40% das pessoas concordaram que Matemática é difícil.
Entre 10 e 15% dos candidatos do concurso erraram a questão.
Apenas 1% dos investimentos teve retorno.
Os 30% que discordaram da ideia se retiraram da sala.
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