— Hoje acordei e fiquei pensando. Doutor. Será que é isso mesmo? Ainda não caiu a ficha.
As palavras de Dorival Gonçalves Santos Filho, 35 anos, um dia após receber o título de doutor em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), resumem o sentimento do professor que aprendeu a ler em casa com a ajuda da mãe e por meio dos livros que achou no lixo.
Dorival cresceu em um lixão, na cidade de Piedade, no interior de São Paulo. A mãe, dona Lucrécia, tirava o sustento da família do lixo. Ao lado dos quatro irmãos, foi lá onde ele começou a trabalhar.
Foi dona Lucrécia, a maior incentivadora do filho, quem sempre deu forças para Dorival continuar e chegar aonde chegou. “Eu não tinha celular para conversar com a minha família, mandava carta pra minha mãe falando que não sabia se ia conseguir. E ela dizia ‘claro que vai, eu vou ver o que posso fazer pra te ajudar”, disse ele, em entrevista para o GAÚCHAZH.
Além do incentivo da mãe e do seu esforço, para Dorival, outros fatores foram determinantes para ele chegar aonde chegou: as oportunidades e incentivos do governo. “Meritocracia pra mim não funciona, porque é uma batalha, é uma disputa muito desleal.” Dorival garante que só voltou a estudar graças a programas sociais, pois não precisava trabalhar no lixão o dia inteiro.
Ir à escola era regra dentro de casa, mas por sete anos ele precisou largar as carteiras porque não dava conta da dupla jornada. Foi só quando a mãe recebeu o Bolsa Família que Dody conseguiu voltar à sala de aula. E foram os professores, impressionados com o conhecimento do menino, que sugeriram para Dorival cursar Letras devido ao interesse por literatura.
Após concluir o ensino médio, ele foi aprovado no vestibular em Letras da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), no campus de Assis (SP). Dorival se graduou em 2010 e foi para Guaramirim, cidade no norte de Santa Catarina, para onde a mãe, os irmãos e os sete sobrinhos haviam se mudado.
Contudo, engana-se quem pensa que Dorival vai parar por aqui. Ele quer continuar os estudos e sonha em conhecer a França. Outro projeto de Doddy é terminar sua autobiografia, sem data para publicação, que vai inspirar muitas pessoas a nunca desistir de seus sonhos – por mais que eles pareçam impossíveis.
Informações:G1