Ter uma doença incurável não me faz triste, apenas consciente sobre a finitude da vida.

Meu nome é Ana Michelle, tenho 36 anos e faço tratamento de câncer de mama metastático há 7 anos. Descobri aos 28 anos e desde então a vida tem sido diferente. Não vim contar uma história triste, porque a verdade é que ter uma doença incurável não me faz triste, apenas consciente sobre a finitude da vida.

Acaba pra todo mundo. Pra mim, talvez, mais cedo do que eu gostaria já que sou absolutamente apaixonada pela vida em todas as suas nuances. Decidi há tempos que aprenderia a ver colorido em tudo, até mesmo sentada na cadeira da quimioterapia contando para as enfermeiras tudo o que aprontei entre um ciclo e outro.

Já acumulo 62 sessões de quimio no currículo e muitos outros números que assustam num primeiro momento, mas que pra mim só significam que tô na luta e vivendo. Nós, os incuráveis, ou paliativos como gosto de chamar, preferimos contabilizar #bucketlists, os desejos antes de morrer. Sem drama.

É só uma forma de ressignificar algo que parece triste. Prefiro rir. E de bucketlist em bucketlist vou curtindo e mostrando pra todo mundo que felicidade não deve ser adiada e nem condicionada a acontecimentos futuros. A vida tá aí, linda, repleta de possibilidades esperando para serem aproveitadas. Nessa caminhada encontrei uma grande amiga a quem acompanhei até o segundo final.

Pude estar ao lado e por meio de uma lista de desejos pudemos realizar algumas de suas vontades já no leito do hospital. Até o padre Fábio de Melo foi lá dar a unção dos enfermos. A Rê se foi, mas sigo compartilhando abertamente as reflexões sobre viver a consciência da finitude.

Ana Michele

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Sobre a inteligência, a força e a beleza feminina.