Amélie Poulain é uma personagem extremamente singular que nos ajuda a captar sutilezas do dia a dia que, se receberem a devida atenção, podem nos guiar para o grande propósito de nossa existência.
“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” conta a história de uma jovem que encontra uma razão diferente para sua existência. Quando criança, Amélie recebe uma educação fria e distante de seus pais o que faz com que na vida adulta ela seja uma pessoa isolada.
Porém, isso muda quando descobre em seu apartamento uma caixa com recordações da infância de um antigo morador. Amélie decide devolvê-la ao seu dono e, a partir de então, começa a se sentir diferente quando percebe que seu propósito na vida é ser um diferencial na vida dos outros. Com pequenas atitudes no dia a dia, ela passa a ajudar as pessoas que vivem ao seu redor.
A jovem antes isolada começa a criar laços afetivos mais fortes com aqueles que trabalham com ela no café, com os moradores de seu prédio e, assim, inicia um processo de abertura de si mesma para o mundo exterior. Uma das pessoas com quem se relaciona é o chamado “Homem dos Ossos de Vidro”, que se mantém recluso em seu apartamento. Ele sempre pintava o mesmo quadro, mas não conseguia captar a essência da menina com copo d’água, que parecia ser diferente de todas as outras figuras da obra – o interessante é que a própria Amélie é a menina misteriosa do quadro.
Amélie é uma personagem extremamente singular e curiosa, que se vê atraída por detalhes do dia a dia que, muitas vezes, passam despercebidos pelas outras pessoas. O filme capta bem a simplicidade das coisas, como por exemplo, o prazer de Amélie em colocar as mãos em sacos de grãos e seu pai, que adora arrancar tiras do papel de parede. São coisas simples, mas que, como um todo, constroem detalhes significativos para a narrativa.
Enfim, as atitudes de Amélie começam a ser um diferencial na vida das pessoas, até que ela se abre o suficiente para se apaixonar. No entanto, o foco principal da história não gira em torno do amor entre ela e Nino, mas da questão de encontrar um propósito para a vida.
Amélie é uma garota simples que trabalha em um café na França e que, a partir de um acontecimento aparentemente banal – encontrar uma caixinha antiga em seu apartamento –, se descobre de tal forma que enxerga uma razão para sua existência. A sua abertura para o amor é uma consequência da nova postura que assume diante da vida.
Ao ajudar os outros, Amélie ajuda a si mesma, abrindo-se para o mundo e, enfim, quebrando a barreira de solidão que a separa da vida. No fim das contas, tudo se resume a encontrar um propósito, algo que te preencha e te faça entender que há uma razão para a sua existência. E esse propósito pode vir das coisas mais banais, que poderiam passar despercebidas.
O filme como um todo é incrível: trilha sonora, fotografia, figurino. Mas o que mais prendeu minha atenção foi Amélie, justamente por ser diferente em todos os aspectos. Ela repara em detalhes que quase ninguém mais nota, não se joga na realidade tão facilmente e é atraída pela simplicidade corriqueira das coisas que a cercam. Amélie é uma raridade.
Entre todas as reflexões provocadas pelo filme, uma das frases que mais me prendeu foi dita pelo “Homem dos Ossos de Vidro” na cena final, quando Amélie, mais uma vez, parece criar uma barreira contra a vida.
“Querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Você aguenta as pancadas da vida.”
E quantas vezes achamos que não aguentamos as pancadas da vida e, por este motivo, nos esquivamos daquilo que pode causar dor? O problema é que, assim como Amélie, dessa forma também fugimos da felicidade. Mas a vida é isso: um punhado de tristezas e alegrias que se interligam e, na maioria das vezes, são dependentes umas das outras.
Isto porque, assim como não existe felicidade que em certo ponto não possa causar dor, também não há dor que em algum momento não possa se desdobrar de forma inusitada e levar à felicidade.