Terminei o namoro porque ele tinha câncer. Foi um ato de amor-próprio’

Depois de mais de 20 anos de casamento, em 2013 a aposentada Silvia*, 53, se divorciou e estava pronta para viver uma fase de autocuidado, de liberdade e de estar disponível para coisas novas.

Rapidamente ela conheceu um novo amor e eles começaram a namorar. Mas com oito meses de relacionamento veio a bomba: ele tinha um tumor no cérebro. “A gente se dava muito bem, tínhamos planos de morar juntos.

Mas, com a doença, foi bem complicado. Num primeiro momento, segurei a bronca, dei apoio, fiz de tudo para ele se sentir bem. Cada vez a saúde dele exigia mais de mim, até que chegou um momento em que percebi que estava me doando como mãe e não mais como namorada, mulher.

Eu estava me doando demais e precisava olhar para mim. Então dei um basta, terminei. Foi um ato de amor-próprio”. Só dá para cuidar do outro se você estiver bem. Sua decisão foi muito julgada.

O namorado e a família condenaram a escolha de Silvia, mas ela não se arrepende. “Sei que tenho de fazer primeiro por mim e depois pelo outro. Estava esquecendo que aquela doença não era minha; estava virando codependente da doença dele”

Se num primeiro momento o que Silvia fez pode parecer chocante, a verdade é que atitudes como a dela não são raras e podem, sim, ser a melhor decisão a ser tomada.

“A gente só vai conseguir cuidar do outro se a gente estiver bem
Muitas vezes é realmente necessário esse tipo de rompimento para cuidar de si”, explica a psicóloga hospitalar Sabrina Gonzalez

Segundo a especialista, muitas vezes quando uma pessoa assume o papel de cuidadora de um parente ou companheiro, ela acaba ficando doente emocionalmente também.

“Existe uma reorganização da relação, os papéis mudam. Além disso, questões práticas, como trabalho e dinheiro, são envolvidas e há grande demanda emocional de quem está doente”, explica.

Cada caso é um caso: tudo depende de como são as relações entre as pessoas, a situação em que vivem, a doença e muitos outros fatores. Por isso, a psicóloga considera impossível dizer que existe um comportamento certo ou errado, mas ressalta que é essencial que quem cuida do outro lembre sempre de cuidar de si.
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*O nome foi trocado a pedido da entrevistada.






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