Por Bruna Stamato
Desde que nascemos somos acostumados que o correto é viver em um determinado bando, e desta forma, seguimos a vida atrás dos nossos semelhantes, atrás de um grupo que nos entenda e que nos aceite.
Passamos boa parte da nossa jornada na Terra assim: Tentando nos enquadrar, tentando pertencer á um grupo determinado e até mesmo à uma família, e a maioria de nós, acredite, não se encaixa em nenhum. A diferença é que a maioria de nós ACEITA tal condição e se conforma que “ a vida é assim mesmo”.
Desde o colégio, ainda nas primeiras séries, sofremos horrores para formar uma equipe, e QUANDO conseguimos é quase um clã sagrado! Não o largamos por nada e chegamos várias vezes a anularmos nossa opinião em prol deste clã!
E por aí vai…nos casamos com quem achamos que nos completa, que nos acolhe; Formamos nossas famílias e tentamos completar e acolher á todos. Vivemos boa parte do tempo fazendo concessões e carregando uma culpa- elefante nas costas como uma mochila permanente e olha que em grande maioria, nem nós sabemos o motivo de nos sentirmos culpados, mas nos sentimos!
Mas aí…aí acontece um espetáculo que eu amo observar, chamado: PASSAGEM DO TEMPO. Pois é! Ele só não passa para quem já morreu! Enquanto você lê esse texto, o tempo está passando pra você.
E como é maravilhoso sentir no cerne, na alma, tal passagem! Chega uma hora em que a gente simplesmente cansa de viver buscando aceitação, a gente cansa de tentar agradar, de engolir verdades para não machucar os outros.
A gente cansa de vestir determinado tipo de roupa só porque a ocasião pede. A gente cansa de viver no molde que outras pessoas fizeram pra gente. E aí começa o aprendizado mais complicado e maravilhoso da vida: O de pertencer, enfim, á si mesmo.
É como se de repente a gente quisesse pegar a estrada pela contramão. Refazer os caminhos inversos, entende? Não é a necessidade de mudar o mundo á nossa volta, a necessidade de mudança é interior.
E conforme a gente vai vendo que é possível, que as pessoas sobrevivem quando dizemos NÃO à elas, que o Sol continua nascendo quando não chegamos ás 7:00 hrs em ponto na reunião, quando nossos filhos dormem bem na casa dos amigos ou parentes, é que a gente se dá conta de que o mundo inteiro continua existindo, com ou sem a gente.
E acredite, essa é uma das sensações mais pavorosas e fantásticas da nossa existência terrestre!
É como se finalmente largássemos a nossa mochila da culpa. Como se parássemos de nadar contra a corrente e simplesmente deixássemos o fluxo nos levar. Amadurecer dá um baita alívio! Embora o preço que paguemos para pertencermos á nossos mesmos seja alto.
Ás vezes implica em romper certos ciclos viciosos, em romper laços familiares, em acabar com amizades relativas e colocar pontos finais onde até então insistíamos em reticências.
A maioria das pessoas não está preparada para lidar com alguém que decidiu pagar o preço de ser quem se é. Elas se amedrontam; Se retiram. Porque no fundo temem que o bicho da mudança as pique, que essa sua LOUCURA seja contagiosa! Sim!
Somos constantemente taxados de LOUCOS porque decidimos abandonar aquele emprego que nos fazia infeliz, porque largamos o noivo na porta da Igreja, porque nos permitimos mudar de opinião, 2, 3 vezes ao dia.
Porque QUESTIONAMOS, porque optamos em começar a falar as nossas verdades! Somos taxados de loucos pelos “NORMAIS” que acham que viver a vida é entrar numa empresa aos 16 anos e sair dela aos 66, para se aposentar e aí então, QUEM SABE, começar a viver de verdade.
Os “normais” que mantém casamentos infelizes de fachada, que traem seus cônjuges á beça por aí, mas que então na missa todo domingo. Os “normais” que juntam dinheiro por anos e anos e anos para viajar para fora do país, mas que nunca arriscaram ir conhecer uma cachoeira aqui pertinho mesmo…
Os “normais” que esgotam toda a saúde correndo atrás de grana e que depois não têm nem saúde sequer para torrar a grana. Os “normais” que fazem 6hrs de terapia semanal, mas que SÃO NORMAIS.
Loucos, somos nós! Que já largamos tudo por amor. Que já construímos um mundo inteiro por amor!
Nós, que aprendemos que a verdadeira felicidade não está em trocar de carro religiosamente todo ano, mas que muitas vezes está em acordar cedinho e sair a pé para respirar, para conhecer um vilarejo qualquer…
Nós, que mesmo precisando, decidimos não pedir dinheiro emprestado para parente nenhum! E também, que por essas e outas, não temos mais a menor OBRIGAÇÃO de dar satisfação nenhuma para parente nenhum!
Que trocamos de cidade, de estado, de país, trocamos a cor do cabelo e o corte incontáveis vezes num ano, mas que continuamos usando nosso velho patins e os tênis surrados da adolescência.
Nós, que por sermos demasiados MEDROSOS, saímos em busca dos nossos ideais, justamente porque o medo do conformismo era maior que qualquer outro que poderia existir!
Porque, convenhamos, há de se ter muita CORAGEM para viver uma vida “mais ou menos”, para amar “mais ou menos”, para ser “mais ou menos” amigo, “mais ou menos” filho ou irmão, há de se ter muita coragem para se acomodar diante de uma vida tão fascinante! Comodismo é muito diferente de criar raízes.
Devemos criar raízes com quem amamos, mas jamais nos acomodarmos na infelicidade. Fácil não é!! Mas é muito mais difícil viver submerso na demagogia!
Então, á você, maluco, louco inconformado, aquele que nunca “está feliz com nada” porque foge da infelicidade toda vez que ela vem bater à sua porta e que muda até achar o seu ideal, à “ovelha negra da família” eu te dedico um brinde!
Você é muitas vezes incompreendido, injustiçado, passa privações e é constantemente excluído, e eu sei que é um preço alto, mas acredite, chegar em casa, abrir um vinho em plena terça feira e dar risada de si mesmo, não tem preço!
Saber que por mais que se ame alguém, ninguém morre quando um amor se vai, e que é totalmente possível viver bem sozinho, não tem preço! Só quem já se perdeu de si, quem já se doou completamente á outro ser, é que sabe a falta que se fez.
E pertencer á si mesmo não tem preço!
Se o que você fez durante o dia, não importa o que tenha sido, te causou um “Ufa!” de alívio no final da noite, continue! É o sinal que está valendo a pena!
Afinal…pedras que não rolam, criam limo!