A epidemiologista brasileira Celina Turchi entrou para a lista dos dez cientistas mais influentes do mundo em 2016 segundo a revista Nature.
O reconhecimento se deu graças a seu trabalho que permitiu associar a microcefalia à infecção pelo vírus zika, informou a publicação.
De acordo com o editor da revista, Richard Monastersky, a escolha das “dez pessoas que importam na ciência” é feita com base nos avanços científicos revelados pelas pesquisas desenvolvidas por elas.
Médica pela Universidade Federal de Goiás, mestre em epidemiologia pela London School of Hygiene & Tropical Medicine e doutora pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, a brasileira Turchi desenvolveu pesquisas em diversas instituições nacionais e internacionais.
Ascom UFG
A pesquisadora brasileira Celina Turchi, considerada pela revista Nature uma das dez cientistas mais influentes de 2016
Com experiência na área de epidemiologia das doenças infecciosas, atualmente, Turchi atua como pesquisadora no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães – Fiocruz no estado de Pernambuco.
Em entrevista à agência de notícias Lusa, Turchi atribuiu a indicação da Nature a todo o grupo de pesquisadores que participou da investigação sobre o zika.
“São cientistas que têm muito interesse, que se empenharam muito, trabalharam em equipes multidisciplinares, com múltiplas universidades e institutos de pesquisa. Esta distinção é para todos os componentes desse grupo. Sinto que estou só representando um grupo de cientistas e profissionais de saúde do Brasil”, disse.
Avanço científico
Os resultados preliminares do estudo, publicados em setembro pela revista Lancet Infectious Diseases, demonstram que a epidemia de microcefalia registrada no Brasil em 2015 é resultado da infecção congênita pelo vírus zika.
O estudo comparou os 32 recém-nascidos com microcefalia nascidos em oito hospitais públicos do Recife, em Pernambuco, entre janeiro e maio deste ano, com 62 bebês nascidos sem microcefalia nos mesmos hospitais e no mesmo período.
Os cientistas recolheram amostras de sangue dos dois grupos e amostras de líquido céfalo-raquidiano dos bebês com a doença, que foram submetidas a análises para o vírus zika e os anticorpos para o mesmo vírus.
A conclusão foi que 13 dos 32 casos (41%) tiveram resultados positivos para a presença do vírus no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, contra nenhum dos 63 bebês saudáveis. “Concluímos que a epidemia de microcefalia é o resultado da infecção congênita por zika”, escreveram os autores no artigo então publicado.
O estudo continua em curso e deverá incluir 200 casos de recém-nascidos com microcefalia e 400 sem a doença, o que permitirá quantificar o risco com maior precisão e investigar o papel de outros fatores na epidemia de microcefalia.
“Pensar que em menos de um ano se estabelece o vínculo causal com uma doença e se levanta a hipótese e se consegue estabelecer o vínculo de associação entre a infecção congênita e a doença. É um novo capítulo da medicina”, disse Turchi, lembrando que esse conhecimento é útil para que se invista na prevenção.
A cientista brasileira, no entanto, lamentou o fato de que a mesma rapidez não se verifica do ponto de vista da saúde pública.
“Do ponto de vista das ações e aporte de recursos, ainda não temos a preparação suficiente para respostas imediatas. Do ponto de vista da sociedade, ainda é precário. [A microcefalia] é uma carga social e para os serviços de saúde”, disse, comentado a incapacidade provocada pela doença nas crianças, o peso para as famílias e o aumento da procura dos serviços de saúde.
Cientistas influentes
Além de Turchi, também constam na lista a porta-voz do LIGO (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory), Gabriela Gonzalez, pela descoberta das ondas gravitacionais; o astrônomo Guillem Anglada-Escudé por descobrir um planeta com tamanho semelhante à Terra na órbita de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.
Também aparecem na publicação Demis Hassabis, cofundador da empresa de inteligência artificial DeepMind; o especialista em fertilidade John Zhang; Kevin Esvelt, que alertou para os perigos de uma técnica que permite forçar um gene a espalhar-se mais depressa do que o normal por uma população; bem como Terry Hughes, que alertou para a descoloração da Grande Barreira de Coral, na Austrália.
Outros cientistas na lista dos mais influentes são o químico atmosférico Guus Velders; a física Elena Long; e Alexandra Elbakyan pelo seu site Sci-Hub, que desafiou as publicações científicas convencionais ao disponibilizar ilegalmente na internet 60 milhões de artigos.
TMS/lusa