Psicologia e Comportamento

É preciso maturidade para ser ODIADO

O ódio do próximo não deve afetar a minha vida, a minha autoestima e menos ainda o que faço, penso e sinto. Viver com o ódio alheio tornou-se questão de sobrevivência. E maturidade.

Passamos a vida ouvindo falar sobre amor: amor-próprio, amor ao próximo, amor em família, em sociedade, e por aí vai. Tudo que se refere ao amor está na moda, mas pouco é exercido na prática. E quando se fala em ódio? O que isto tem a ver comigo, com a minha vida ou com os meus interesses?

O que eu sei é que quanto mais nos tornamos maiores, maduros e bem-sucedidos, mais chances temos de enfrentar o “mal querer” alheio. Se expresso a minha opinião, os que são contra ela podem ter uma reação de ódio por minha pessoa. Se exerço um trabalho que o outro não gosta, o mesmo pode vir a detestar quem sou.

Vivemos num mundo onde o ódio parece se propagar mais rápido do que o amor. Fala-se mais sobre o amor, mas não estamos certos do que é mais exercido na prática. Haja visto uma sociedade criar o termo “Haters” (odiadores), para nominar os que propagam o ódio e intolerância através da internet, com a naturalidade de quem respira.

Mais do que “Ame ao próximo como a ti mesmo”, parece que o odiar tem sido muito frequente. As redes sociais viraram campos de batalhas. Um comentário gera outro, outro e mais outro. Alguém elogia, outro critica e ali começa toda a bagunça. Alguns são educados e respeitosos, mas uma boa parte aproveita o anonimato e a impessoalidade para cultivar suas próprias amarguras e frustrações, com a inconsciência que lhe é devida pela própria “involução”.

Somos odiados por qualquer coisa. Se sou feio, me odeiam pela feiura. Se sou bonito, me apedrejam pela beleza e me presenteiam rótulos de materialista e superficial. Se sou malhado, serei odiado por culto ao corpo. Se sou esforçado, posso ser taxado de “caxias”. Se sou homossexual, correrei risco de morte. Se sou negro, serei discriminado. Se tenho uma religião diferente dos demais, serei infiel e pecador.

Preconceitos óbvios, e infelizmente parte de nossa vida, à parte, podemos ainda ser odiados por muito menos: uso uma camiseta que alguém não gosta e pronto. Tenho um sotaque diferente, um conhecimento a mais, ou a menos. Moro num lugar muito bom, ou muito ruim. Expresso o que sinto, ou não expresso. Digo o que penso, ou minto, me escondo.

Tudo é motivo para gerar ódio hoje em dia. Ressaltando que ódio já está dentro dos predispostos ao mesmo. Vivemos num mundo doente. E só o amor, também em nós mesmos, será capaz de curá-lo. A conta gostas, dia após dia.

Até lá, é preciso muita maturidade para ser odiado. Como seres humanos, passamos a vida em busca de aceitação. Que se saiba, que o amor mais importante que existe é o amor próprio, a aceitação de si mesmo, e não a exaltação de si mesmo. Logo após, o amor pelos nossos pais e pelos nossos filhos.

Se tivermos verdadeiros amigos, tanto melhor. Saibamos amá-los, com todos os seus defeitos, como também nós os temos.Porém, viver em sociedade nos exige saber ser odiados. Devemos aceitar o ódio dos demais, como a incapacidade dos outros de não poder amar e nem de exercer a tolerância. Cada um em seu grau de evolução.

O ódio do próximo não deve afetar a minha vida, a minha autoestima e menos ainda o que faço, penso e sinto. Viver com o ódio alheio tornou-se questão de sobrevivência. E maturidade.

Quanto mais bem-sucedido me torno, mais ódio recebo. E o contrário também é verdadeiro: quanto mais excluído da sociedade eu me torno, mais ódio recebo através do desprezo. Viver sem ódio não é algo possível nos dias de hoje.

Há de se aceitar o ódio, assim como se aceita o próximo. Não é mais uma questão de querer, mas de sabedoria.

O ódio do próximo é do próximo, e não meu. Cabe a mim continuar amando e aguardando a evolução alheia. Se amo, colaboro com tal evolução. Se não sou capaz de amar, ao menos não propagar o ódio já será algo de bom tamanho.

Mas quem puder amar, que ame.

Carolina Vila Nova

Escritora e Roteirista

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