Há quem diga que o instinto materno é implacável e sempre chega, independente do momento. Para algumas mulheres a história não é bem assim…
Se você é mulher, temos certeza de que já foi questionada sobre maternidade em algum momento de sua vida. As perguntas podem ser sutis ou enfáticas, leves ou pesadas, mas elas sempre existirão. Ainda hoje, a sociedade insiste que a mulher só se sentirá plena se for mãe. Isso não é verdade.
“Eu nunca direcionei meus instintos maternais para as crianças apenas. Jamais me reconheci sendo uma daquelas mulheres que se encantavam ao virem uma criança em qualquer ambiente. Lógico que isso não quer dizer que eu não goste, somente que eu jamais pensei nelas como fazendo parte da minha vida, sendo uma responsabilidade que gostaria de assumir”, argumenta a psicóloga Simone Camaroti Laterza, 40 anos, de São Paulo.
Ela pondera que sempre se preocupou com o comprometimento que a decisão pela maternidade exige, assim como o fato de ter alguém aprendendo com nossos exemplos.
“Minha vida pessoal e profissional também foi repleta de fatos que corroboraram ainda mais para essa decisão. Simplificando, acho que, na verdade, faltou desejo mesmo. Se eu disser que me faz falta, neste momento da minha vida, não. Acho que nunca fez. Sei que posso encontrar outras maneiras para canalizar essa energia amorosa”, defende Simone.
Experiências de vida
O que leva uma mulher a optar por não ter filhos é muito particular. Cada pessoa possui sua história e valores que a conduzem para essa decisão, que é legítima e absolutamente consciente.
“Desde pequena nunca me imaginei mãe. Sou filha de mãe solteira e, quando criança, ouvia muito que, por não fazer parte de uma família tradicional (pai, mãe e filho), dificilmente seria alguém na vida. Então, passei a priorizar minha profissão”, relata a pedagoga Jacqueline Gomes de Ramalho, 36 anos, de São Paulo.
Segundo Jacqueline, de um modo geral, a sociedade não entende a decisão de uma mulher não ter filhos, principalmente quando está envolvida com a educação de crianças. “É muito comum ouvir das mães dos meus alunos que eu não entendo alguma situação porque não sou mãe”, revela.
A produtora Célia Generoso, de 53 anos, moradora de Santos (SP), está casada pela segunda vez e em nenhum dos relacionamentos quis ter filhos.
“Meus pais se separaram quando eu tinha 13 anos e vi o perrengue que minha mãe passou com os três filhos, tendo de cuidar sozinha, além de toda a discriminação que sofria por isso. No meu primeiro casamento, a família e as amigas faziam essa cobrança. Apenas a minha mãe não me cobrou. Obviamente, não me dobrei aos desejos dos outros”, salienta.
Quando o casamento acabou, Célia namorou outras pessoas, mas sempre que o assunto filho entrava em questão, sabia que era sua deixa para sair de cena. “Meu atual marido já vem de dois casamentos, com um filho em cada. Eu sempre parti do princípio que, para ter um filho, era preciso estrutura financeira e emocional para isso. E eu te digo com toda convicção de que não me arrependo da minha escolha”, enfatiza.
Posso ser mãe, mas não quero
A diretora de arte Rafaella Biagi Braga, 26 anos, é casada e não quer ser mãe. “Acredito que ter um filho é muito mais do que gerar um bebê; é a responsabilidade de criar um ser humano em meio a essa sociedade caótica em que vivemos”, pondera. Ela e o parceiro têm essa opção muito clara desde o namoro.
“Foi algo natural. Chegamos a um consenso, pois pensamos de forma muito parecida a respeito. Ele até fica aliviado, assim como eu, por não existir uma ‘pressão’ entre nós para que isso aconteça”, completa. Por outro lado, Rafaella se sente pressionada pela sociedade. “Parece que seu eu não tiver filhos não estarei cumprindo meu papel no mundo, especialmente para os mais velhos”, fala.
Quem também nunca se viu como mãe foi a empresária Cíntia Gracia, 37 anos, de São Paulo. Embora goste muito de crianças, ela curte muito fazer o papel de tia.
“Sempre amei criança, mas eu nunca quis ter uma. Na vida adulta, eu nunca senti essa vontade, mesmo. Quando era casada, meu ex-marido também não tinha vontade, então nunca foi um plano em nossa vida. Conforme o tempo foi passando, eu ia ficando com menos vontade de ser mãe. Minhas amigas foram tendo filhos e eu segui curtindo as crianças delas”, conta.
Enquanto esteve casada, Cíntia sofreu muita pressão por parte dos amigos e familiares de seu ex-marido para que fosse mãe. “Era um inferno e o que mais me irritava era que a cobrança vinha sempre só para mim. Ouvi de tudo que se pode imaginar, inclusive, que eu não podia desperdiçar esse dom (de gerar um filho). Eu ficava bem incomodada, mas administrava porque sou educada, embora minha vontade fosse xingar todo mundo”, desabafa.
Segundo a empresária, a vida de uma mulher que não quer ter filhos é muito julgada, em especial quando se está casada. Até porque as pessoas começam a especular mil coisas.
“Ninguém aceita simplesmente que você quer ser um casal sem filhos, que era muito a minha pegada com meu ex-marido. Depois que eu fiquei solteira isso sossegou, porque a cobrança atual é quando vou arrumar um marido ou namorado. Agora, as pessoas me acham uma coitada porque eu não tenho um homem do meu lado e não porque eu não tenho um filho”, diverte-se.
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