Hoje eu decidi ser feliz. Decidi abandonar aquele peso que eu carregava, que me sufocava, me deixava preso e me impedia de voar. Decidi sair da gaiola e transgredir as normas.
Cansei de ser normal, de ser igual, de ser mais um. Cansei das respostas, agora só me preocupo com as perguntas. Perdi-me nas certezas e encontrei-me na loucura.
Decidi abandonar todas as presenças ausentes. Cansei de estar rodeado de multidões e me sentir sozinho.
Daqui pra frente só aceito olhares profundos, ouvidos atentos, línguas afiadas e abraços apertados. Quero ao meu lado apenas aqueles que se jogam no mar sem medo de se perder.
Decidi andar devagar, aproveitar o dia, esperar de mansinho a lua e sentir, entre as ondas que quebram na praia, as brisas que vem do oceano. Quero correr despreocupado pelo céu, descansar nas nuvens e beber água na fonte.
Decidi prestar mais atenção nas felicidades presentes nas pequenas coisas. Decidi entregar-me aos pequenos prazeres e ser rei apenas do meu reino.
Entreguei-me voluptuosamente aos encantos da distração para não perder nesta terra escassa nenhum raro poço de alegria.
Decidi superar todos os meus medos e as minhas vergonhas. Decidi largar a borracha e fazer de cada borrão um novo traço, mais vivo, mais marcante, mais vibrante de um quadro em constante transformação.
Decidi desbravar o mundo enquanto há tempo. Decidi lutar pelos meus sonhos, queimar o pé no asfalto, sentir a mão que afaga e ao mesmo tempo apedreja, pegar carona em balões de algodão doce e lutar contra as feras da selva de pedra.
Decidi aprender a sorrir mais para poder enxergar na queda o passo de dança. Enxergar o novo lance de escada para continuar a subir, a melodia do silêncio para continuar a cantar e o balanço da rede para adormecer as tormentas.
Decidi continuar a lutar por esse mundo vil e também encantador, que tanto me machuca e me alegra, que tanto me castiga e me nina, que tanto me manda embora e me prende em seus braços para que jamais encontre morada em outro lugar.
Decidi me perder nas linhas tortas do destino ou ser mochileiro de uma estrada sem rumo. Decidi explorar meus avessos, ter coragens infantis, vislumbrar o impossível e ser maluco o bastante para sempre acreditar no futuro.
Hoje eu decidi viver e lutar pela vida. Decidi enfrentar a minha tragédia fantasiado de palhaço, para sempre rir por mais que o choro seja inevitável. Para rir por mais que o choro seja seco.
Para rir e sempre lembrar que por mais dura que esta terra seja, sempre haverá poetas que jamais se esquecem de sorrir e enquanto estes existirem, sempre haverá uma nova aurora para nascer, um novo hoje a recomeçar e um novo dia para buscar o destino de felicidade presente no universo.
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