A tocante cena do lava-pés encerra o mais profundo mistério da verdadeira redenção do homem.
O seu sentido último vai muito além da ética da humildade que estamos habituados a ouvir nos sermões comuns das igrejas.
É a apoteose da redenção pelo querer-servir.
A humanidade está dividida em dois grupos nitidamente distintos: os que querem ser servidos – e os que querem servir.
A primeira parte é enorme, a segunda é pequena em quantidade, embora grande em qualidade.
Para que um homem passe da doença crônica do querer-ser-servido para a vigorosa sanidade do querer-servir, é necessário que deixe de ser profano e se torne um homem sacro.
No homem profano, devido à sua cegueira, predomina o pequeno ego físico-mental – no homem sacro, graça à sua vidência, triunfa o grande Eu espiritual.
O homem profano se sente bem, importante, poderoso, quando está sentado sobre um trono, dando ordens, e muitos de seus semelhantes jazem ao pé do trono, cumprindo ordens.
Nisto é que ele vê força, riqueza grandeza – quando, na realidade, tudo isto é sintoma de fraqueza, pobreza, pequenez.
Quem pode alegremente servir mostra que é forte, rico, pleno, exuberante.
Deus não tem necessidade de receber nada, mas dá tudo porque é inesgotável Plenitude.
Quanto mais o homem se aproxima da Divindade doadora, tanto mais gosta de dar e servir e tanto menos se interessa por receber e ser servido.
(Texto extraído do livro “O Triunfo da Vida Sobre a Morte” – Huberto Rohden* – Editora Martin Claret).