Meghan não era um coitadinha que virou princesa. Mas uma das atrizes mais bem pagas dos Estados Unidos.
Frequentou desde cedo os estúdios devido ao pai, diretor de fotografia vencedor de Emmy. Desde 2009, interpretava um dos papéis principais da série Suits, o de Rachel Zane, técnica jurídica envolvida nos processos de um grande escritório de advocacia em Nova York.
Estava consolidada a sua ascensão há uma década. Não precisava de ninguém para pagar boletos. Não ganhou na loteria da família real britânica para se ver livre das contas. Não foi um golpe, um lance de sorte ou uma mudança absurda daquilo que vivia quando casou com o príncipe.
Ela já tinha um padrão elevado, tanto que frequentava as mesmas rodas de famosos de Harry, onde o conheceu. Sequer dependia de atenção, já vivia acostumada com a vitrine e os tabloides enquanto atriz. Já era notícia antes de se tornar manchete.
Não foi resgatada de um lugar menor para o Palácio de Kensington. Não existiu um guindaste de classe social. A foto que fez na frente do castelo quando tinha 15 anos com a amiga não representa um spoiler, apenas uma parada obrigatória de turista – não mantinha algum sonho da Disney que se realizaria 21 anos depois.
Aceitou um casamento, disposta a enfrentar os altos e baixos de uma convivência, como todo mundo. Se vai dar certo ou errado, depende mais da compatibilidade dos dois do que de uma renúncia feita e da castração da personalidade.
Não apagará a sua espontaneidade e livre-arbítrio com a união. Ela possui domínio do que acontece dentro da Coroa Britânica, graduada como é em Relações Internacionais na Universidade Northwestern.
Não é uma desavisada ou uma ingênua que foi mordida pela vaidade e pelo luxo. Tampouco carecia de holofote.
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Já no casamento anglicano, mostrou quem manda: com vestido elegante, discrição exemplar e nem um pouco deslumbrada com a visibilidade. A celebração teve mais a sua cara, em nome da diversidade e dos direitos humanos, do que de qualquer rito inglês conservador: com um forte sermão, do bispo afro-americano Michael Curry, defendendo o poder do amor e evocando Martin Luther King e a trajetória dos escravos no Sul dos EUA, além do maravilhoso coral composto por cantores negros cantando “Stand by Me”.
E o melhor: ela entrou sozinha na Igreja antes de enganchar os braços do Príncipe Charles. Requer muita coragem, independência e segurança pra traçar aquela curta caminhada solitária. Pequenos passos mudando o mundo. Nada mais empoderado do que uma mulher entrando senhora de si no altar. Ainda mais para quem é divorciada, pisando nos preconceitos com a cauda de seu vestido. A Capela de São Jorge jamais tinha visto essa audácia.
Exerceu uma escolha consciente, madura. É a sua fé no relacionamento que vigora no enlace, acima das fofocas. Ela não apagará a sua identidade. Seguirá o que vinha fazendo na sua vida muito mais na nova função.
Não se tornou uma Amélia. Não será exemplo de uma mulher submissa. Pelo contrário, como Duquesa de Sussex, poderá ampliar os tentáculos de seu engajamento e ação social, já iniciada antes como embaixadora global da World Vision Canada e com a “Entidade para Igualdade de Gênero e Emancipação das Mulheres” das Nações Unidas.
Meghan casou por amor. Só isso. Casar não é perder a liberdade, e sim assumir um destino a dois.
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