por Fabrício Carpinejar
Minha mulher tem a senha do meu celular e eu tenho a dela. Nunca conversamos a respeito – simplesmente aconteceu. Assim como não conservamos a certeza de quem falou o primeiro “eu te amo”, talvez tenha sido junto.
Não há o que esconder do outro. Às vezes assistimos vídeos lado a lado, ela me mostra o que recebeu no grupo e eu apresento por onde estou navegando e peço a sua opinião sobre as notícias – os aplicativos existem para puxar conversa em vez de agravar o isolamento.
Celular não é para ser um cofre, um segredo, uma conta privada. É apenas mais um recurso para falar com os amigos.
Os aparelhos estão sempre acessíveis. Ou carregando ou virados para cima. Se surge algo na tela, qualquer um pode espiar sem escândalo. Se entra uma ligação, o primeiro que enxergar avisa quem é.
O celular é como um antigo telefone de casa, coletivo, impessoal. Não é maior do que a nossa relação. Não tem nada lá dentro que alguém necessite manter distância.
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O respeito físico e virtual são iguais. Ela pode abrir Facebook, Instagram, e-mail e somente vai encontrar a minha decência.
Tem noites que saímos com um único celular. Sorteamos: hoje é o meu ou hoje é o seu?, e rimos com a divertida alternância.
Telefono com o celular dela. Ela telefona com o meu celular. Ninguém fica tenso com alguma mensagem que possa surgir.
E é uma das mais deliciosas sensações do amor: a confiança. Não se proteger, não se ocultar, não usar desculpas, não ser agressivo para omitir conversas incriminadoras, não suar frio pela deslealdade online.
Não devemos nada, não corremos o risco de uma afronta.
Ela não invade a minha privacidade, faço questão de convidá-la.