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Não bata de frente. Deixe de lado e siga adiante

Ahh… essa vida é tão cheia de coisas inevitáveis! Tem as boas, o amor, por exemplo, do qual até o mais cretino dos vilões é merecedor. Tem a paçoquinha, as festas de aniversário, feriado prolongado, os reencontros de toda sorte, do dinheiro esquecido no bolso da calça ao velho amigo que reaparece do nada. E tem as más. As incômodas e obrigatórias coisas ruins de toda vida.

Gripe, caco de vidro, barata, cochilo em hora imprópria, fofoca, chuveiro queimado, falta d’água, blecaute, assalto, rejeição, laranja azeda, comida fria, saudade doída, choque elétrico, pernilongo, decepção e todo tipo de injustiça são só as primeiras.

Contra uma e outra a gente se rebela, reage, enfrenta. Compulsoriamente, a gente combate o que nos incomoda, agride, violenta. A gente briga, discute, toma remédio, vai ao médico, à polícia, procura os amigos. A gente faz qualquer coisa. Faz por defesa, indignação, instinto de sobrevivência, vergonha na cara. Mas faz. Agora, tem coisas inevitáveis que é melhor esperar passar.

Acredite. Agora mesmo há de haver um pateta com sangue nos olhos e veneno no coração babando inveja do que você tem, do que você é. Contra esses, a melhor defesa é sair da frente, passar de lado e seguir adiante.

Saia da frente do touro. Deixe-o correr atrás do próprio rabo até espetar a veia femoral e esvair-se em sangue e ódio.

Relaxe. O que há de ser consertado será. Tudo tem jeito, tem volta. Exceto o que não é para ser. Incontornáveis mesmo só a morte, a lei da gravidade e olhe lá! Porque eu ainda faço fé que um dia seremos livres para sair voando por aí. E quer saber? A morte de pessoas queridas não é desculpa para esquecê-las ou nunca mais vê-las por perto. Eu mesmo vivo encontrando gente que já partiu dessa para, faz bem acreditar, melhor.

Se há coisas inevitáveis e obrigatórias nesse mundo, deixemos o melhor de nós mesmos para as boas. O amor, as paçoquinhas, os reencontros e até os feriados prolongados. As outras, a vida que leve embora tal como as trouxe. Do nada, para nada.

 

Andre J. Gomes

http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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