Sim. Hoje eu me levantei triste. Às vezes não sei se é ansiedade, desânimo ou espanto em relação ao que está acontecendo à minha volta. Não sei… mas muitas vezes me sinto triste, sem mais nem menos. Como enfrentar a tristeza?
Aceitar essas sensações e deixar que aconteçam no meu interior tem sido construtivo algumas vezes, principalmente em uma sociedade que impõe como ordem a alegria de viver – e a ordem de consumir para obtê-la.
Entendo, mesmo assim, que existe algo além dessa tristeza. Eu estou lá, sustentando o sentimento. Lá estou eu, a pessoa capaz de saber se o que estou sentindo arrebata quem eu sou, minha consciência de ser, de poder e de querer.
Mas vou enfrentar a tristeza e não vou deixar que ela tire de mim quem eu sou. Não vou agir conforme minha angústia manda, porque se eu a deixar viver, é porque eu não existo mais. Por isso, ela não pode ser mais forte do que eu sou.
Seguirei lutando, ainda que ela esteja presa às minhas tripas, no fundo do meu ser… Eu a deixarei falar às vezes, a escutarei para ver se ela tem alguma coisa para me dizer. Outras vezes, no entanto, eu quero ficar sozinha. E quem decide isso sou eu.
Estou triste e isso faz parte de mim
Eu não sou um jogo de futebol que já começou ganho. Eu sou um tabuleiro no qual existem fichas pretas e fichas brancas. Sensações temporárias, que até hospedo em algumas ocasiões, muitas vezes acabam guiando meus passos e ditam tudo que eu faço. Mas minha identidade está sempre prevalecendo por trás.
Curiosamente, são essas sensações de tristeza que me guiam em direção à evolução. Eu me recolho na minha solidão, com o frígido e ensurdecedor silêncio. Lá eu escuto a mim mesma. Preciso me sentir assim às vezes. Assim consigo me entender e crescer.
Não vou dizer nada estando triste, mas guardarei os ensinamentos dessa sensação para quando eu estiver me sentindo valente. A tristeza já me ensinou tantas coisas e coisas tão valiosas que não quero eliminá-la da minha vida, não quero fazer com que ela desapareça.
Quero que ela surja em mim. Enquanto eu estiver viva, quero aceitá-la como um sentimento de pleno direito. Não quero fingir que ela não existe. Violentá-la. Não quero golpes de estado no mundo dos meus sentimentos. Todos eles são válidos porque surgem do meu interior e se nutrem dos meus pensamentos. São importantes para mim, eu sou a protagonista de cada um dos meus sentimentos e eles fazem com que eu tenha consciência de que eu existo.
Vou ver o que acontece… o que surge aqui de mim, dessa tristeza… se eu consigo me sustentar ou se eu vou cair. A única coisa que sinto é que, no fim, não me vejo como algo comum. É esse o momento de maior conexão comigo mesma que eu sinto.
Quando eu vivo a tristeza como algo natural, a criatividade desabrocha em mim, nos meus bolsos, nos meus sapatos, nos meus olhares e meus suspiros. Quanto maior for a dor, maior eu serei, porque pela primeira vez o sentimento me sustenta ao invés de eu me sustentar em expectativas em relação ao resto.
Vou enfrentar a tristeza e lutar pelos meus valores
Minhas crenças são minha bússola. O resto é só uma forma que vou encontrando ao longo da paisagem. No caminho, encontrarei gente que confundirá amabilidade com ingenuidade, sinceridade com impertinência e tristeza com fraqueza. Nada disso me impedirá de alcançar meus objetivos, que são os próprios reflexos dos meus mais profundos valores.
“Me sinto muito bem e sou feliz, mas nos momentos mais felizes da minha vida eu tenho sempre um motivo de tristeza, não posso evitar”.
-Fiódor Dostoievski-
Como enfrentar a tristeza?
Cada dia darei mais um passo em direção ao meu objetivo. Alguns dias minha tristeza me impedirá até de tocar o chão com os pés. E tudo bem. Outros dias me parecerão um passeio no parque. E em algumas ocasiões uma estrada muito rápida e pouco definida.
Chegou um dia em que eu tomei consciência de que, às vezes, na mais pura alegria, a chegada de uma certa tristeza amplia a vida, traz uma imensidão, cria raízes que me fazem ter motivação para regá-las, cuidar delas e fazer com que cresçam. Daí surgiram os mais belos jardins.
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