Às vezes, duas almas se encontram como as estrelas mais antigas do céu. Quase sem saber como, entramos em um mesmo campo gravitacional onde quase tudo se encaixa. Falamos da atração mental que vai além da física, porque nos captura e deslumbra, duas almas se acariciam e navegam com o mesmo rumo.
Este tipo de atração que vai além da pele e se aprofunda em outros tipos de processos na realidade é mais comum do que pensamos. No entanto, isso não significa que o peso da aparência física deixou de ter a sua notável importância.
De fato, assim como foi demonstrado pelo psicólogo social Solomon Ash em suas “Teorias Implícitas da Personalidade”, as pessoas continuam pensando que tudo o que é bonito é bom e, por isso, benéfico.
“Que alguém te faça sentir coisas sem por um dedo em cima, isso é admirável.”
-Mario Benedetti-
Na hora de falar sobre a atração, temos que ter em conta que grande parte desses mecanismos são regidos por processos inconscientes. O físico é a nossa carta de apresentação e uma grande propaganda, sabemos disso; no entanto, essa propaganda nem sempre é a isca perfeita nem a mais infalível.
A biologia, a química e as nossas necessidades psicoemocionais dão forma a esse campo gravitacional onde nos aproximamos de determinados perfis em que às vezes, quase sem saber como, surgem a magia e um projeto de vida.
Não falamos necessariamente de “almas gêmeas“, mas de personalidades que se conectam, que estão em perfeita sintonia e que são capazes de criar um vínculo forte e enriquecedor. Um tema interessante e com muitas nuances sobre o qual desejamos refletir com você.
A atração mental não busca almas gêmeas, busca companheiros de viagem
Começaremos falando de um dado curioso que deve nos convidar à reflexão. Segundo um estudo realizado pelo doutor Raymond Knee, diretor do laboratório de Psicologia Social da Universidade de Rochester, mais da metade das pessoas acreditam que as almas gêmeas existem. Ou seja, que as pessoas estão destinadas entre elas e que esse tipo de atração transcende o que, à primeira vista, é compreensível.
Dentro da visão do conceito das almas gêmeas, o aspecto da atração mental é, sem dúvida, um pilar básico. No entanto, como nos explica este mesmo autor através de artigos como “The Science of Soulmates” (em tradução livre, ‘A ciência das almas gêmeas’), este tipo de atração iria mais além dos simples processos mentais associados ao conjunto de valores, necessidades e afetos para chegar a um campo bem mais espiritual.
“Amar não é só gostar; é, acima de tudo, compreender.”
-Françoise Sagan-
É claro que, para um ponto de vista científico, essa abordagem não é válida. Não o é porque há quem deixe nas mãos do destino aspectos que devem estar sob nosso controle. Porque a verdadeira atração mental não entende de magia nem de destinos, mas do conjunto de duas personalidades maduras que, além de um amor eterno, também estejam à procura de um relacionamento presente, de um companheiro/a de viagem pelo qual lutar todos os dias.
Unidos pelo destino ou unidos para crescer
O doutor Raymond Knee ainda hoje continua imerso no estudo sobre a concepção social das “almas gêmeas”. Em seu departamento podemos realizar um teste para avaliar nossa visão sobre o tema. Depois de realizar essa prova, saberemos se pertencemos a algum destes grupos.
- Pessoas que acreditam na existência das almas gêmeas. A partir desta abordagem, a atração mental é entendida como o processo pelo qual a nossa união com a outra pessoa é tão íntima e excepcional que não precisamos dizer o que queremos ou o que precisamos para que a outra pessoa saiba. Somos um mesmo ser.
- Pessoas que acreditam nos relacionamentos afetivos como parte de seu crescimento pessoal e emocional. Neste caso, o destino tem pouca ou nenhuma importância. Ninguém está predestinado a ninguém, somos nós quem o criamos investindo tempo, vontade e esforço quando encontramos esse companheiro de viagem.
A atração mental responde neste último caso a uma concordância em relação a interesses, paixões, valores e a facilidade com que negociamos, com que nos entendemos para chegar a acordos sem esperar que a outra pessoa “adivinhe” o que está acontecendo conosco. Entender de outra forma poderia nos levar a uma frustração profunda.
As chaves da atração mental
A atração física é algo forte, intenso, descontrolado… Nós sabemos e gostamos disso. No entanto, a verdadeira magia que caracteriza essas relações mais autênticas e estáveis é um equilíbrio ideal entre ambas as dimensões, em que a sedução mental é todos os dias o ingrediente mais evidente, o mais vívido e emocionante.
“O amor torna possível o paradoxo de dois se tornarem um, sem deixarem de ser dois.”
-Erich Fromm-
Assim, se pararmos para aprofundar um pouco sobre as chaves da verdadeira atração mental, podemos ver que, efetivamente, há muito pouco de sobrenatural nela; mas muito de emoções, instintos, química e desse tipo de intuição enterrada em nosso inconsciente que nos diz que essa é a pessoa que, neste momento presente, é a melhor para nós.
Vamos ver alguns aspectos.
- O primeiro aspecto é, sem dúvida, a reciprocidade. Algo tão básico como recebermos uma resposta positiva, nos sentirmos reconhecidos e valorizados e nos vermos como alguém importante aos olhos de outra pessoa é uma atração muito significativa.
- A atração mental também tem a ver com interesses semelhantes, com ver o mundo a partir da mesma perspectiva e sob os mesmos princípios. Podem haver diferenças em alguns aspectos, como é óbvio, mas essas pequenas dissonâncias são respeitadas e até mesmo valorizadas.
Da mesma forma, a atração mental é acesa através do desafio. Há pessoas que nos fazem sentir vivos, que nos desafiam com seu olhar, com seus conhecimentos, com aquela combinação sutil em que o familiar se entrelaça com o desconhecido. Pouco a pouco, forma-se algo que nos emociona, que preenche a nossa mente para, irremediavelmente, acender nosso coração e deixar que nossas almas se acariciem.