Está em voga o tempo de autoexposição em excesso, em que as chamadas redes sociais constituem-se plataformas coerentes para o narcisismo contemporâneo. Um formato específico nessa busca pelo status “emergente” é a chamada selfie, postura que, como o próprio estrangeirismo sugere, consiste em, caprichosamente, postar-se ante a câmera do próprio celular e, pronto! Eis o registro; do riso ou de outros trejeitos, que tentam nos remeter à ideia de felicidade espontânea de quem se lança à mostra. O gesto, febril, no sentido de “modinha”, subjuga quem quer ser visto, segundo a segundo, por uma legião de “amigos”, que acabam por “revidar”, num gesto de “reciprocidade carinhosa” revelado em um like de outrora.
Sem a menor pretensão de evocar um instante filosófico, seria interessante perguntar aos aficcionados pela autoimagem virtual: e se vossas fotos revelassem também vossos estados de espírito? O riso – se houvesse –, ou o rostinho bem enquadrado, teria a mesma plenitude? Quanto de vosso contentamento revela uma autoverdade, uma sinceridade sobre si mesmos?
É provável que o narcisismo, em que a fonte refletora é uma tela de celular, e não um sereno espelho d´água, faz parte de um comportamento abrangente e ao mesmo tempo vazio: a busca incansável por alguns míseros segundos de fama. O fato é que o ato da selfie, assim como o próprio instante, é fugaz, é um sopro de afago à personalidade de uma sociedade que sabe muito pouco sobre a própria felicidade. São ilusões propagadas em instantes angustiantes, sendo que a cada toque gerador de um “curti” se assemelha a uma mão estendida para salvar o Narciso imerso na lagoa turbulenta de nossas vaidades existenciais.