Preciso de ajuda. Estou cansado, no limite das minhas forças. Cansado de remar sozinho, de aparentar poder cuidar de tudo e não dar conta de mim mesmo. Preciso de um salva-vidas, uma mão amiga que possa e queira me guiar. Porque existem momentos que são assim, nos quais não existe outra opção além de pedir apoio, e aceitar uma ajuda que nos permita lidar com os nossos problemas a partir de outro ponto de vista.
Dizem que todas as pessoas infelizes têm uma coisa em comum: a amargura. No entanto, nem todas as amarguras têm a mesma distinção, nem o mesmo contexto. Existem pessoas que transformam esse mal-estar até padronizá-lo, engolindo essa infelicidade até acumular muitas pedras: as dos pesares, dos rancores, do mau humor e dos pensamentos distorcidos que alimentam, como a lenha faz com o fogo, o estado emocional pelo qual ela estão passando.
Pedir ajuda nesses casos é quase uma ofensa, um sinal de fraqueza. Porque existem aqueles que projetam a responsabilidade nos outros, esperando que sejam eles os que adivinhem o que está acontecendo e atuem adequadamente.
Felizmente, também encontramos aqueles que dão o passo e se atrevem a pedir ajuda. Porque isso de se calar e aguentar tem um limite: apesar de parecer mais fácil oferecer do que receber, existem momentos nos quais é necessário solicitar auxílio.
Preciso de ajuda, estou no limite
Albert Ellis, conhecido psicoterapeuta cognitivo, desenvolveu ao longo dos anos 50 o que hoje conhecemos como a Terapia Racional Emotiva. Dentro desse ponto de vista, existe um aspecto que vale a pena lembrar. Frequentemente nos sentimos completamente indefesos e desesperados e pensamos que a vida não poderia nos tratar pior. Que somos um barquinho de papel que está sempre à deriva. No entanto, como diria o próprio Ellis,“não são os fatos que nos alteram, mas a interpretação que nós fazemos deles”.
Contar com alguém que seja capaz de nos fazer ver o que foi mencionado antes é, sem dúvida, o melhor dos recursos. Pois bem, se existe algo que todos sabemos, é que não é nada fácil dizer em voz alta que precisamos de ajuda. Como fazer isso? Por mais curioso que seja, costuma acontecer o seguinte: quem mais precisa de apoio é quem mais reticências terá na hora de solicitá-lo.
Quem mais precisa de ajuda é também quem mais acostumado está a prestá-la, mas não a recebê-la. Desse modo, quando finalmente cruzamos a fronteira e reclamamos definitivamente o direito de sermos escutados, atendidos e cuidados, fazemos isso porque já não aguentamos mais. Chegamos no limite.
Quais indicadores mostram que chegou o momento de pedir ajuda?
Não devemos chegar a esse limite, a essa fronteira onde surgimos feridos no consultório de um psicólogo clínico. Como estamos lidando com a nossa realidade? Se ela escapa do nosso controle, poucos indicadores podem ser mais explícitos. No entanto, vejamos alguns deles:
- Tudo que sentimos, experimentamos de forma intensa, desmesurada.Um simples erro se transforma em algo fatal, o mau humor pode durar dias, semanas inteiras. Uma decepção nos deixa imobilizados, os imprevistos nos vencem, etc.
- Existem determinadas coisas, ideias, lembranças, sensações que não podemos tirar da cabeça. Todas essas imagens e pensamentos chegam a interferir em nossas tarefas e obrigações cotidianas.
- Experimentamos dores de cabeça recorrentes, problemas digestivos e musculares, sofremos de insônia ou temos sono excessivo, etc.
- As coisas que antes gostávamos de fazer, agora perderam todo o sentido ou interesse.
- Deixamos de ser produtivos no trabalho.
- Nossas relações são mais tensas. Não faltam frases como “é que você exagera em tudo, com você não dá para discutir”… As pessoas que gostam realmente de você expressam abertamente que estão preocupadas.
O que eu posso esperar de quem me oferece ajuda?
Quando preciso de ajuda, busco três coisas: ser entendido, que não me julguem por aquilo que eu pensei ou fiz, e que me ofereçam recursos para gerar uma mudança positiva. Podemos conseguir tudo isso com um amigo ou familiar, já que todos nós passamos por isso em alguma ocasião. No entanto, existem momentos nos quais é necessário pedir a ajuda de um profissional especializado.
O que esse psicólogo treinado e habilitado em uma série de capacidades bem especificas nos oferecerá é o seguinte:
- Aprender a ver os nossos problemas a partir de outro ponto de vista. Um onde não existam muros, um onde deixamos de nos ver como vítimas e passamos a nos ver como agentes potenciais da nossa própria realidade, essa que só nós podemos mudar.
- Ver as realidades interiores que não sabíamos ou não percebíamos. Eles serão os agentes do nosso autodescobrimento.
- Não devemos esperar que um psicólogo nos dê conselhos ou pautas de comportamento sobre o que devemos ou não fazer. Um psicólogo nos ajuda e capacita para que sejamos nós que achemos a resposta para os nossos problemas; nós somos os artífices exclusivos das nossas mudanças e decisões.
- Ele nos ajudará também a aliviar os sofrimentos, ao adquirirmos novos pontos de vista de compreensão e comportamento.
- Vamos adquirir recursos para controlar as emoções, para evitar os padrões prejudiciais de pensamento, ou para aplicar técnicas acertadas de autocontrole.
- Vai ajudar, por sua vez, a definir quais são as nossas prioridades para agir com base nelas.
- Permitirá ter uma atitude de crescimento, um lugar no qual ter a consciência de nós mesmos para nos posicionarmos no mundo com coragem, abertura e responsabilidade.
Para finalizar, dizer em voz alta “preciso de ajuda” muitas vezes é mais difícil do que gostaríamos. No entanto, o simples fato de fazer um pedido que garanta essa necessidade já é um grande passo.
Buscar esse apoio especializado, que nos permita começar a produzir uma mudança, pode ser a melhor decisão. Afinal, queiramos ou não, existem ocasiões em que nós, sozinhos, não damos conta de tudo. Existem momentos em que a terapia se transforma na melhor ponte para uma nova etapa de nossas vidas.
Fonte:A Mente é Maravilhosa