Por Carla Regino
Por que nossos relacionamentos começam como um mar de rosas e se transformam em câmaras de tortura?
No início da paixão geralmente enxergamos nosso parceiro com qualidades superiores às que ele realmente possui. No início dos relacionamentos, quando em dúvida das reais intenções de uma atitude do nosso parceiro, damos a ele o benefício da dúvida de que não queria nos magoar, nos diminuir ou passar para trás. Mas conforme adicionamos histórias e experiências nessa trama a dois, as dinâmicas vão se modificando.
Na maioria dos casos a mudança não é para melhor. Começa devagar a suspeita de que, de repente, nosso caro outro tenha pegado em nosso ponto fraco de propósito. Daí em diante, assumimos que qualquer atitude, que o outro tenha e que de alguma forma nos atinja, foi criada para nos ferir deliberadamente. O inferno está instaurado.
Por que será que a maioria das relações segue este caminho? Alguns poderão dizer que é porque o ser humano não nasceu para ser monogâmico, os mais românticos poderão pensar que é porque ainda não encontraram a pessoa certa. A verdade é que a grande vilã da história é a ansiedade. Os namoros, rolos e casamentos são complexos e dolorosos, pois existe muita ansiedade envolvida no relacionar-se. Especialmente no momento atual, em que não existem mais regras que estipulam a forma como as pessoas devem estar juntas. A ansiedade surge do medo que aparece, quando estamos vinculados a alguém.
O que é ansiedade? A definição do Dicionário Aurélio diz, “sensação de receio e de apreensão, sem causa evidente, e a que se agregam fenômenos somáticos como taquicardia, sudorese, etc”. A ansiedade é um motor na civilização ocidental. Usamos este sentimento como estratégia para educarmos nossos filhos para se tornarem bons cidadãos. Existe uma regra implícita na maioria das famílias, se o filho fizer o que os pais querem, ele receberá o amor deles em forma de aprovação, mas se ele não fizer o que é esperado, será repreendido. Este amor condicional gera muita ansiedade e mais tarde nós todos o reproduzimos em nossas outras relações.
A dinâmica da ansiedade na vida a dois
São duas as dinâmicas individuais que fazem surgir o medo e consequentemente a ansiedade nos relacionamentos. Geralmente um parceiro tem uma pré-disposição maior para sentir medo de ser abandonado e o outro parceiro o medo de ser sufocado. Antigamente poderíamos atribuir a dinâmica do sufocado ao homem e a do abandonado a mulher. Mas isso vem mudando.
Quanto mais a personalidade que teme ser sufocada pede espaço ou demonstra ter necessidade de uma maior liberdade, mais a personalidade que tem medo de ser abandonada se sente sozinha, mal amada, insegura e incapaz. Isso faz com que sua ansiedade aumente. Para combater essa sensação desesperadora e torturante, o indivíduo aperta as rédeas do relacionamento com o objetivo de obter um maior controle da situação. Mas não é possível ter controle sobre a vida, muito menos segurança.
A relação a dois também é imprevisível e perigosa. Portanto, o indivíduo que tem medo de ser abandonado toma certas atitudes, que resultam em uma maior sensação de sufocamento do seu parceiro. Este por sua vez se afasta ainda mais. Como consequência dessa ação, o outro se sente realmente abandonado. Pronto! A tortura está instaurada e o futuro de anos de desilusão, sofrimento e infelicidade também.
Portanto, a ansiedade é uma das grandes vilãs do amor e por causa dela acabam surgindo jogos de poder nos relacionamentos, com um querendo ter controle sobre o outro. Por isso é sempre importante prestarmos atenção a serviço do que estamos tomando uma certa atitude. Se nosso objetivo for o de obter alguma forma de controle sobre outro para abaixar nossa ansiedade, é melhor procurarmos outro jeito, pois este tipo de atitude irá destruir nosso relacionamento aos poucos, como um cupim se alimentando de um armário.
Fonte: Carla Regino é psicóloga junguiana especializada em relacionamento amoroso