Segundo a psicóloga Sharon Thomas, saber escolher a idade e o momento certo para entregar um celular a uma criança, envolve analisar pelo menos duas questões.
É necessário analisar previamente qual a função o aparelho desempenhará na vida da criança. Primeiro analisar entender se ela tem o entendimento sobre as limitações e privações.
“Hoje, o celular virou um bem que as pessoas acham que devem ter porque todo mundo tem”, afirma Sharon em entrevista à Época NEGÓCIOS. “Muitos pais me falam: ‘Minha filha tem 5 anos, a amiguinha tem um celular já e ela quer também’, mas eu acho um crime dar um celular para uma criança de 5 anos. Nesta idade, ela não desenvolveu as habilidades básicas.”
Essas habilidades aos quais a psicóloga se refere são denominadas nos Estados Unidos como function executives. “Parece papo de CEO, mas a metodologia das escolas americanas é estruturada com base em funções desenvolvidas no lobo dos cérebros e são essenciais para tudo que fazemos em nossas vidas”, afirma.
Dentre essas funções executivas, estão a capacidade de planejamento, estabelecimento de metas no longo prazo, iniciativa para tomada de decisões e flexibilidade comportamental.
“Nos EUA, as escolas tentam entender como a tecnologia está afetando ou beneficiando o desenvolvimento dessas funções executivas. Às vezes, uma nova tecnologia entrega um aprendizado tão rápido, que dificulta que as pessoas foquem, absorvam e se aprofundarem no conhecimento. Parece que virou tudo bullet point”, diz.
Sharon diz que essas funções executivas demoram pelo menos de 25 a 32 anos para serem desenvolvidas por inteiro, sendo assim a especialista afirma que, “seria irrealístico esperar que crianças e jovens consigam se automonitorar e impor os limites sobre o uso da tecnologia.”
“A idade certa para dar um celular varia de pessoa para pessoa, mas é preciso entender o motivo dele ser necessário. Eu não daria para um adolescente só ‘porque todo mundo tem’. A função dos pais também é saber dizer não”, diz.
Sharon justifica que é imprescindível celebrar todos os benefícios que a tecnologia proporciona, nos termos de conhecimento e comunicação, mas ressalta que é preciso monitorar para não criar vícios, desânimo e até comprometer o desenvolvimento dos filhos. “Muitos pais me procuram dizendo que seus filhos estão desanimados e indo mal na escola. Vamos analisar a rotina deles e vemos que eles passam grande parte do dia no quarto conectados, socializando com várias pessoas e, depois de várias horas, ficam exausto e ‘sem tempo'”.
“A vida online só aponta para tudo que é maravilhoso em geral. E, no caso de uma adolescente que está lutando para criar uma identidade diferente das dos pais, seu uso excessivo pode se tornar uma pressão e virar até bullying”, diz.
Mas a especialista também salienta a necessidade de trabalhar isso na relação. E um dos pontos é o adulto dar o exemplo. “Uma das coisas ruins que a tecnologia trouxe para os adultos foi esse fácil acesso a todos o tempo todo. Eles se sentem impelidos a responder rapidamente a todos. E aí ocorre que ficamos o tempo todo online. Mas precisamos criar limites para nós mesmos. Do contrário, os filhos vão falar: você não quer que eu use o iPad, mas olha você conectado o tempo todo”, diz.
Na outra ponta Sharon destaca que as instituições também possuem a responsabilidade de entender se a tecnologia que está sendo levada para a sala de aula está de fato, ajudando no crescimento da criança. “Vemos muitas escolas enchendo salas de iPads e novas ferramentas tecnológicas, mas sabemos que o nosso aprendizado não depende apenas de conseguirmos uma informação. Mas, de como sabemos usar essa informação de forma relevante.”
Via: Época Negócios
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