Por Marla de Queiroz
Não sei ao certo se a gente recebe um pacote chamado VIDA ou se esse pacote é que recebe a gente. O fato é que no tal embrulho, sem manual de instruções, cada um desenlaça uma narrativa, alguma história escrita assim: sem caderno, caneta, apenas com tinta.
Dentro dele, gratuitamente, temos os dias e todos os fenômenos que a Natureza usa para se expressar. Temos nossas preferências sobre cada um destes fenômenos e dizemos “gosto” ou “não gosto” nos posicionando como se algo pudesse impedi-los.
São muitas as pessoas que vivenciam esta mesma experiência e, é com elas que interagimos. Existe uma conexão absoluta entre tudo e todos, mas ainda assim, temos a opção de escolher com quem conviver de acordo com as afinidades e essas coisas todas que fazem com que os laços se estreitem.
Também recebemos uma família, ou ela nos recebe: alguns a perdem precocemente, mas ainda podem construir a própria. Outros têm problemas quase indissolúveis com estes laços sanguíneos e, poucos sabem que aí está o nosso verdadeiro aprendizado.
Será por acaso que nascemos vinculados fortemente com quem não escolheríamos para ser nosso amigo?
Então existem os sentimentos. Uma infinidade deles. Uma profusão misteriosa de sensações que permeiam nossos dias, determina as cores dos instantes, influencia o nosso humor. Posso chamar esta dor de amor? E o que eu chamaria de apego, então? Essa decepção tem perdão?
A gente se cobra demais. Ou não.
A gente deveria parar de tentar fazer com que o Outro aja como agiríamos e aceitar que, mesmo “falhando”, ele tem o direito ao erro assim como nós. A questão é: eu o quero por perto? O que tal comportamento me diz sobre tipo de relacionamento que desenvolvi com determinada pessoa?
Sou tratada com respeito? Ou melhor, sou tratada como eu me trato? Como eu me trato? Eu erro? Eu decepciono? Eu falho? Eu peço perdão? Eu perdoo com a mesma facilidade com que me desculpo? A gente se cobra de menos.
A gente deveria não ser tão condescendente com quem aprendeu que não precisa aprender para ser acolhido. A gente deveria entender que certas pessoas somente poderão ser ajudadas quando não mais nos tiverem como plateia e perderem a nossa compreensão quase maternal.
Tem gente que age inconsequentemente e confunde egoísmo com individualismo. Entendam, isso está muito além de um relacionamento amoroso mal sucedido.
Todo mundo tem o direito (e o dever, eu diria) de ir embora quando os sentimentos estão desproporcionais, quando a reciprocidade não faz companhia na sensação de eternidade que, até na incerteza do futuro, conjugamos quando apaixonados. Mas de quem é a “culpa” e o Outro não quer caminhar ao nosso lado.
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A gente se cobra demais.
O fato é que muita gente está lendo este texto entre tantos outros sobre os mesmos temas e, com a caixa ainda por desembrulhar no colo, já colocou sua VIDA num dilema. E envolveu-se nesta vitimização por não haver um manual de instrução que o oriente a fazer dela um bom uso.
E, enquanto os Outros escrevem suas próprias narrativas e seguem cumprindo suas missões nesta existência, guiados pela intuição que se fortalece com a nossa (re)conexão, tanta gente ainda não conseguiu sair do status de relacionamento CONFUSO.